terça-feira, 20 de dezembro de 2011

(OUTROS) TIPOS DE TREINO TÉCNICO (IV)



2. TREINAR A DOIS PARA PROGREDIR MAIS DEPRESSA

A análise técnica dos percursos deve fazer parte integrante das sessões de treino de Orientação e como tal deve estar prevista nos planos de treino.

 Neste artigo falaremos dos exercícios de Orientação realizados a dois. Tradicionalmente esta abordagem já existe há muito tempo em Orientação:
  • Cada um dos atletas tem marcados no seu mapa postos de controlo diferentes (exercícios tipo “par-ímpar”) e vão, alternadamente, liderando a condução do percurso: o orientista “A” faz os pontos de controlo ímpares e o orientista “B” faz os pares;
  • Outras vezes, um deles segue o outro (“atleta sombra”), observando-o e dando-lhe conselhos. Este exercício assume muitas vezes a forma de “tutoria” entre dois orientistas de níveis técnicos diferentes: o atleta sombra é o de grau técnico mais elevado e o atleta que está a ser seguido e observado é o aprendiz (formando).
A situação aqui proposta, da autoria de Jean-Daniel Giroux, é diferente. Identifica-se, em certos aspectos, com a situação de dois orientistas que se seguem um ao outro. No entanto, este novo exercício contribui para o progresso dos dois atletas, quer sejam de níveis técnicos ligeiramente diferentes ou semelhantes, pois, cada um deles, alternadamente, vai fazer o papel de “treinador” e de “atleta”. O papel de treinador, inabitual para a maioria dos orientistas, necessita por parte dos orientistas, de uma atitude de muito rigor e de uma real vontade em progredir (tanto para si como para o parceiro).

Como por em prática este exercício ?

Preparação:

Não é necessário colocar balizas no terreno. Os dois orientistas constroem em conjunto (com o verdadeiro treinador) um percurso de Orientação com vários pontos de controlo e definem vários pontos de paragem (de 3 em 3 ou de 4 em 4 pontos de controlo). Cada um deles traça a seguir o percurso no seu mapa e indica ao outro, de entre os pontos-chave da lista a seguir indicada, quais os objectivos técnicos que pretende trabalhar.
De uma maneira geral, esta situação permite desde logo que os atletas tenham consciência dos seus pontos fortes e fracos relativamente aos pontos-chave da lista:

No ponto de controlo:
             1) Eu escolho o ponto de ataque (PA) do ponto de controlo seguinte
      2) Eu determino o itinerário até esse PA
      3) Eu faço sistematicamente um azimute à saída do ponto de controlo

      Durante o itinerário: 
      4) Eu antecipo os elementos do terreno do itinerário que construi
      5) Eu antecipo (estudo) os próximos pontos de controlo
      6) Eu controlo a minha direção com a bússola
      7) Eu leio a definição do ponto de controlo antes de passar pelo PA
Na aproximação à baliza: 
8)      Eu passo efetivamente no PA e tenho disso consciência 
9)      Eu mudo de atitude – leitura do mapa e do terreno, ritmo de corrida … 
10) Chegando à “círculo da baliza”, eu utilizo a “cabeça radar”


No terreno:

Os atletas trocam de papel (atleta/ treinador) de cada vez que chegam a uma das paragens pré definidas. Nas 3 ou 4 balizas previstas, o “treinador” segue o “atleta”, mantendo-se ligeiramente recuado. O objectivo é o de deixar o atleta agir o mais possível como se estivesse sozinho a fazer o percurso. O à vontade e a confiança entre os dois orientistas bem como o hábito de trabalharem com esta forma de trabalho contribui muito para o sucesso do treino.

O respeito pelos pontos 1,2,4,5 e 8 da “preparação” são controlados pelo “treinador” graças ao que o “atleta” vai dizendo enquanto faz o percurso.

Os pontos 3,6,7,9 e 10 serão controlados visualmente pelo “treinador”.

O treinador ficará essencialmente mudo durante a ação. Todavia, ele intervirá, se for necessário relembrar os pontos-chave ao atleta.

O papel de treinador exige, num primeiro tempo, a alteração da maneira habitual de se utilizar um mapa de Orientação. O treinador não deve servir-se do mapa para se situar no terreno. O mapa deixa de ser um instrumento de navegação e torna-se no suporte para o treinador tentar compreender o que se passa na cabeça do atleta – Que tipo de ponto de apoio escolheu ele? – Saberá ele aproveitar as porções fáceis do terreno (caminhos, …) para ler o mapa?


A sessão passo a passo

Se o atleta pretende trabalhar, por exemplo, cada um dos pontos-chave da lista, deverá respeitar a seguinte ordem:
  •     Indica oralmente ao treinador o ponto de ataque que escolheu para o ponto de controlo seguinte
  •    De seguida descreve sucintamente o itinerário que escolheu: “descer o caminho à esquerda do traço vermelho… “.  Se o atleta começa por descrever o itinerário antes de ter indicado o ponto de ataque, o treinador interrompe-o perguntando: “e o Ponto de Ataque ?”.
  •    A seguir faz o azimute de saída do ponto de controlo que, em função do itinerário escolhido, poderá ser diferente da direção simbolizada pelo traço vermelho que une os pontos de controlo.
  •     O atleta descreve oralmente por antecipação os elementos que vai encontrar e que lhe irão servir de apoio para a sua progressão. Se o treinador julgar que o atleta se esqueceu de mencionar um elemento importante, questiona o atleta.
  •     Nos momentos tecnicamente muito simples, o atleta indica oralmente um dos postos de controlo que se segue e em relação ao qual ele antecipa o estudo da sua opção de itinerário. Descreve sucintamente o trajeto previsto. Se nestas secções do terreno o atleta não o faz, contentando-se apenas em correr, o treinador lembra-lhe muito brevemente, com uma ou duas palavras, que o momento é justamente propício para esta forma de antecipação.
  •   No decurso do itinerário, o atleta utiliza a bússola para verificar a orientação dos seus deslocamentos. Senão, o treinador questioná-lo-á.
  •     Ao aproximar-se do ponto de ataque, o atleta lê a definição do ponto de controlo e indica ao treinador o elemento característico procurado assim como a posição da baliza em relação a esse elemento (pé oeste ou pé este da falésia, por exemplo).
  •     No momento em que o atleta passa junto ao ponto de ataque, indica-o oralmente.
  •     Trata-se agora do momento mais delicado para o treinador. Este deve tentar verificar se o atleta adapta o seu comportamento para se aproximar do ponto de controlo de forma rigorosa. Depois de ter indicado “Ponto de Ataque” quando passa por ele, o atleta indica os detalhes do terreno que ele irá encontrar até à baliza, e a respectiva posição dos diversos outros elementos que envolvem a baliza. Se o atleta decide atacar o ponto de controlo com um azimute, o treinador controla o seguimento dessa operação. O treinador deve também estar atento ao ritmo de corrida que o atleta adota devido às dificuldades técnicas do terreno.
  •     Chegando às imediações do posto de controlo, ao “círculo da baliza”, o treinador deve observar o atleta para saber se ele fica permanentemente com o nariz no mapa ou se consegue libertar-se dele. Tendo memorizado o terreno, o atleta pode então estar atento ao envolvimento e correr com a “cabeça-radar” para descobrir mais rapidamente a baliza.
As intervenções orais do treinador serão muito breves e reduzidas ao mínimo necessário a fim de evitar perturbar o atleta. Durante o encadeamento das 3 ou 4 balizas, o treinador não fará em nenhum caso julgamentos de valor sobre a pertinência dos pontos de ataque ou dos itinerários escolhidos. O atleta deve conservar uma fluidez quer na sua corrida quer na sua abordagem mental quer no encadeamento dos automatismos. As paragens previstas serão aproveitadas para analisar e discutir os pontos de ataque e as opções tomadas, e o treinador deverá então fazer parte activa dessas observações …


Balanço

Não somente os orientistas tomam consciência dos seus graus de automatização – eu nunca construo os meus itinerário a partir dos pontos de ataque ...; nem sempre passo efetivamente no ponto de ataque ...; no ataque ao ponto de controlo, eu ainda tenho muitas vezes o nariz colado ao mapa em vez de utilizar a “cabeça radar” ... – como também esta forma de treinar irá permitir remediar no terreno estes pontos fracos e ajudar os atletas a adotar uma atitude mais eficaz.

Como o exercício se faz a dois, não é forçosamente necessário colocar balizas. Nas paragens, o treinador indicará ao atleta a sua discordância se não estiver de acordo com o elemento do terreno designado por ele como sendo o ponto de controlo.

Se o nível dos dois orientistas for ligeiramente diferente, o mais experiente irá, mesmo assim, tirar proveito do treino, através da observação dos erros e omissões do orientista menos experiente – nem que seja para constatar que os automatismos estão longe de ser inatos e que é fundamental estar constantemente trabalhá-los para se tornarem fiáveis ...

No entanto, a diferença entre eles não poderá ser tanta que impeça o “treinador” de seguir o ritmo imposto pelo “atleta” … Neste caso o exercício será realizado de forma diferente: o orientista mais experiente será sempre o “treinador sombra” e o menos experiente o “atleta em observação”.


VARIANTE – adaptada pelos autores do blog

Em vez de um percurso completo com uma vintena de pontos de control, os dois orientistas podem limitar o exercício a um “Percurso em Estrela” (Vai-Vem) (*) – ou a um “Percurso em Borboleta” (com 2 ou 3 balizas por “asa”) –  com vários pontos de controlo à volta de um ponto central.

(*) – VER “Caderno Didático nº 3” (pag. 27 – 33) no site da FPO: http://www.fpo.pt/www/images/fpo/OrientacaoEscolas/cadernodidacticon%BAtres.pdf

Objectivo: trabalhar o ataque ao ponto de controlo: como se organizam os diferentes elementos técnicos até à baliza depois do ponto de ataque?
Suporte: em mapa de Orientação. Floresta ou Simulação.
Só ou em grupo: a pares
Bússola: sim
Balizas necessárias: não
Treino físico associado: resistência aeróbica (percurso convencional) ou VMA (vai-vem).

Preparação: cada orientista pede ao parceiro (ou ao verdadeiro treinador) para seleccionar e marcar meia dúzia de pontos de controlo no mapa, em função das suas necessidades técnicas. Os “atletas” só conhecerão os pontos no momento da partida para o primeiro ponto. Haverá dois exemplares dos dois mapas, um para o "atleta" e outro para o "treinador".

No terreno: é importante fazer um “bom” aquecimento, dado que este exercício será realizado com alguma intensidade.

Os exercícios efetuam-se em vai-vem. A cada saída ambos os orientistas devem ter o cuidado de levar  o mapa do orientista que vai fazer o papel de "atleta". No regresso ao ponto central, depois da análise técnica, os papéis invertem-se. Cada orientista realizará alternadamente o exercício como “atleta”, ficando o outro a segui-lo e a observá-lo com “treinador”, até ambos fazerem todos os pontos marcados pelo parceiro.

Os tempos de paragem para análise técnica do “atleta” situar-se-ão no ponto central aquando do regresso de cada um dos pontos de controlo.

Conduta durante o exercício: os orientistas partem ao mesmo tempo do ponto central. O “atleta” lê o mapa e escolhe o itinerário para o ponto de ataque ao ponto nº 1 – que ele só agora conhece – e faz o ataque à baliza. O “treinador” segue-o e observa o seu comportamento. E assim sucessivamente.

Durante o exercício a comunicação oral entre os orientistas é de evitar. É durante as paragens no ponto central que o “treinador” solicita ao “atleta” a descrição do seu ataque ao posto e que diálogo se estabelece.


REFERÊNCIAS:
·         Jean-Daniel Giroux, 2003.
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Estes exercícios poderão ser realizados na floresta ou em versão “simulação”.

Desafiamos os leitores do blog que tenham o privilégio de ter férias de Natal, que as aproveitem para experimentar estes exercícios … porque nem só de Festas vive o Homem … :)

Propomos que comecem devagarinho, sem complicar as coisas, até ganharem calo neste tipo de trabalho ... 


E FELIZ NATAL




E PRÓSPERO ANO NOVO   isso é o que se irá ver … :(


Hélder e Emanuel




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