sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

ORIENTAÇÃO: TIPOS DE TREINO TÉCNICO (I)

 


… se é verdade que “ nada pode substituir o trabalho no terreno …
… nada é pior do que correr de cabeça e mãos vazias ” …

 Depois de saber identificar os seus pontos fracos, como poderia ter feito melhor para corrigir as más opções e, sobretudo, depois de saber quais foram as razões dos seus erros – e de as ter registado no Diário de Treino – utilizando a auto-avaliação, a análise técnica dos percursos (registo manual e/ou GPS) e a conversa com o treinador, o orientista deverá utilizar os vários tipos de treino para remediar as suas dificuldades técnicas, em função das condições de prática que tiver ao seu alcance.

Por vezes é útil dissociar os treinos físicos dos técnicos, embora seja de o evitar o mais possível (para assegurarmos progressos técnicos rápidos e estáveis), particularmente para os orientistas que ainda não têm uma técnica bem “oleada” – “é sempre preferível, em termos de progressão e aprendizagem, efectuar um só treino de Orientação, do que três treinos só de corrida. Na Orientação, a qualidade é sempre de privilegiar em relação à quantidade”.

Evidentemente que há o lado físico da Orientação que não devemos negligenciar. Mas, pelo menos durante a adolescência, o lado físico joga um papel verdadeiramente insignificante comparado com o técnico. A adolescência é o momento privilegiado para a aprendizagem das técnicas fundamentais de base, em que o(a) orientista deve passar o máximo de tempo a correr “com o mapa na mão” dentro da floresta.

Regra geral, é muito negativo dissociarmos o trabalho físico do técnico. No entanto, é preferível valorizar mais o aspecto técnico (para progredirmos mais rapidamente) em detrimento do aspecto físico, mesmo que saibamos que não vamos poder correr à velocidade que gostaríamos de correr e degradar o nosso nível de corrida.

O ideal será, evidentemente, podermos desenvolver o conjunto destas capacidades físicas e técnicas de maneira homogénea – mas não será nunca um erro privilegiarmos o trabalho técnico … Correr rápido na pista de atletismo não será nunca tão útil como correr rápido na floresta … E correr rápido na floresta exige um trabalho de treino diferente …

Por exemplo: quando utilizamos o método do treino intervalado, aliado ao trabalho de “simulação”, nos intervalos de repouso podemos desenvolver as capacidades técnicas. E, os percursos de Orientação na floresta, traçados de forma simples, permitem-nos trabalhar mais fisicamente (correr mais rápido). 

Na mesma ordem de ideias, querermos trabalhar a técnica apenas nas provas de competição é um erro crasso … é o mesmo que pedir a um pianista para tocar pela primeira vez a partitura no dia do concerto …

Em Orientação, é a mesma coisa. Não podemos esperar fazer coisas em competição que nunca fizemos nos treinos.

Evidentemente que existe também a dificuldade em arranjarmos um mapa e uma floresta para podermos trabalhar a técnica, para podermos correr com o mapa na mão.

Se não for possível deslocar-nos tantas vezes quantas seria desejável para áreas de floresta cartografadas, poderemos utilizar a (boa) “técnica de simulação de Orientação”. Este jogo é, verdadeiramente, excelente e permite-nos trabalhar os mesmos automatismos que num treino real de Orientação – as saídas dos pontos de controlo com a bússola, por exemplo. E, fazer um footing com um mapa na mão é igualmente um bom meio de continuarmos a trabalhar o aspecto técnico apesar da ausência do terreno cartografado. O exercício mais simples de simulação, mas igualmente o melhor, é o de traçarmos um percurso no mapa e de o “corrermos mentalmente” …

Porque … se é verdade que em Orientação nada substitui o trabalho no terreno … nada é pior do que correr de cabeça e mãos vazias … à volta de uma pista de atletismo, por exemplo …


OS TRACIONAIS PERCURSOS TRAÇADOS NO MAPA

Os convencionais percursos de Orientação traçados no mapa, são em geral os exercícios mais “formadores” porque são os mais específicos. Realizam-se no terreno (floresta) e com o mapa. Reproduzem as condições que encontramos em competição. Podemos aproveitar os Percursos Permanentes que existam na proximidade ou os treinos organizados pelos clubes locais.

Mais do que permitirem reproduzir o “simples” percurso e as condições que encontramos na competição, podem permitir também o trabalho específico de diferentes aspectos técnicos: interpretação e navegação pelo relevo, escolha de itinerários, antecipação, bússola e distância, rigor no ataque ao ponto de controlo, adaptação do ritmo da passada e adaptação da técnica de corrida às características do terreno, relocalização, observação do terreno, aumento da carga mental apesar da fadiga, etc.

Certas sessões não necessitam de balizas no terreno – e neste caso é suficiente traçarmos o percurso no mapa e o treino está preparado.

Nos treinos em que se prevê a colocação de balizas no terreno, estas poderão ser colocadas durante o aquecimento e retiradas no final do treino (durante o “retorno à calma”).

No caso de treinarmos sozinhos, colocarmos nós próprios as balizas perde o seu interesse, porque conhecemos à partida o local dos pontos de controlo.

Para evitar este inconveniente, existem duas soluções:
1.    No momento em que traçarmos o percurso no mapa, devemos escolher como pontos de controlo apenas elementos característicos muito evidentes, tais como: pequenas construções, vedações, falésias isoladas, nascentes, limites visíveis de vegetação, colinas isoladas, … Neste caso poderemos fazer o exercício sem ter que colocar previamente as balizas no terreno. Esta solução guarda todo o seu interesse técnico no trajecto entre os pontos de controlo e simplifica a procura precisa da baliza, pela razão que o elemento que constitui o ponto de controlo é facilmente identificável;
2.    Poderemos igualmente montar a nossa própria rede de pontos de controlo permanentes, materializados no terreno por pequenas fitas de plástico marcadas com um código. Ao fim de algumas semanas já nos teremos esquecido da sua posição e poderemos então utilizar esses pontos de controlo nos nossos treinos, idealizando várias dezenas de percursos diferentes, em função dos aspectos técnicos que queremos treinar. Para renovar o interesse nestes percursos permanentes, devemos modificar várias vezes durante a época os locais de colocação das fitas.

Se por exemplo quisermos utilizar um cardio-frequencímetro durante as sessões, devemos utilizar um modelo que memorize as pulsações cardíacas, para não passarmos o treino a olhar para o relógio. Deste modo, ficamos concentrados no mapa durante o exercício e apenas uma vez no final do treino iremos consultar o instrumento para conhecermos o número de pulsações. Poderemos então estabelecer a relação entre o ritmo cardíaco e os erros cometidos.

Alguns orientistas programam ainda os seus cardio-frequencímetros para tocar para lá de um dado limite do número de pulsações – esta precaução poderá assim alertar o atleta para um nível de esforço físico muito elevado ou para uma situação de stress anormal.


Exercícios todo-o-terreno sem mapa

Podemos igualmente treinar na floresta o manuseamento da bússola, a estimativa de distâncias e a observação do terreno, sem mapa de Orientação.

Pouco a pouco, aprenderemos a tirar e a seguir com precisão um azimute, qualquer que seja o obstáculo que esteja à nossa frente – vegetação densa ou transversal; ou relevo plano, a subir, a descer, ou inclinado. Aprenderemos também a avaliar distâncias em todas essas situações e a nossa capacidade de observação do envolvimento ganhará em perfeição. O importante será aplicarmo-nos na realização da técnica e não no ritmo de corrida.

Exº: Desenhar um Triângulo Equilátero

Objectivo: trabalhar a utilização da bússola e a avaliação das distâncias. É necessário ter o passo aferido para o todo-o-terreno e saber tirar e seguir um azimute (VER Caderno Didáctico nº 4” no site da FPO, da página 48 à 54: http://www.fpo.pt/www/images/fpo/OrientacaoEscolas/cadernodidacticon%BAquatro.pdf).

Suporte: nenhum
Só ou em grupo:
Bússola: sim
Balizas necessárias: não
Treino físico associado: resistência aeróbica (endurance).
Preparação no terreno: nenhuma
No terreno: a ideia é a de correr formando um triangulo equilátero, regressando ao ponto de partida.


 






Partir, por exemplo, de um entroncamento de caminhos. Correr a direito, pela bússola, em qualquer direção,  avaliando a distância percorrida – por exemplo, parar ao fim de 200 metros. Juntar então 60º ao nosso azimute e correr mais 200 metros nesta nova direção. Juntar de novo mais 60º ao nosso azimute e percorrer outros 200 metros. Se formos bem precisos, deveremos regressar ao ponto de partida. Se não o formos, o desvio que nos separa da junção dos caminhos, testemunhará o grau da nossa imprecisão. Devemos começar por áreas de terreno sem vegetação muito densa e sem terreno muito acidentado  e ir progressivamente tornando o exercício mais difícil.


REFERÊNCIAS:
·         Thierry Gueorgeous – internet;
·         Jean-Daniel Giroux, 2003.

CONTINUA: “Os exercícios de Simulação”

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