quarta-feira, 16 de maio de 2012

ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DAS SESSÕES DE INICIAÇÃO (I)


 
EXIGÊNCIAS TÉCNICO-PEDAGÓGICAS

Pelas suas características específicas, um treino de Orientação não se improvisa …

De facto, mais do que em outras modalidades desportivas, os treinos de Orientação exigem do professor/treinador tempo e rigor, tanto na sua preparação, como na sua organização, gestão e colocação/arrumação do material. Exigem uma atenção, uma precisão, uma segurança e uma organização muito mais rigorosas do que as outras actividades físicas.

É indispensável propor situações que correspondam o mais possível às necessidades e competências dos alunos – uma vez que eles partam para a execução das tarefas, é praticamente impossível ao professor modificar o exercício, de modo a torná-lo menos complexo, dado que deixa de ter contacto com o atleta e não tem, pois, conhecimento das suas dificuldades em realizar o exercício.

Os alunos devem poder sentir-se em segurança na floresta – e tanto mais quanto mais novos forem.


Na Concepção

·      Fixar objectivos em sintonia com os objectivos do treino – o que é que os alunos deverão aprender ou aperfeiçoar em cada sessão?
·      Constituir os grupos de trabalho;
·   Planificar e adaptar os percursos/exercícios/jogos aos diferentes “grupos de nível” – grau de compreensão e prática dos alunos – e reproduzi-los em fichas, em mapas, …;
·      Fazer a lista do material técnico e didáctico necessário;
·      Elaborar as fichas de registo de observação, resultados e/ou avaliação da actividade;
·      Determinar as tarefas/intervenções do professor durante a aula;
·      Planificar a gestão e o tempo de cada exercício;
·  Se houver necessidade, prever de maneira exaustiva as diferentes instruções e recomendações de organização e/ou de segurança a dar a todos alunos.
Na Preparação
·   Verificar atempadamente o estado de manutenção das balizas, dos postos de controlo do percurso permanente e do estado de arrumação e manutenção do material didáctico;
·      Colocar as balizas e as fitas balizadoras, se possível, pouco tempo antes do início da sessão iniciar a fim de limitar os riscos de vandalismo. Este procedimento evitará que a segurança dos alunos seja posta em causa devido a um eventual desaparecimento das balizas ou outros materiais de referência;
·         Detectar e sinalizar eventuais áreas sensíveis/frágeis do ponto de vista biológico e organizar a segurança – perfeito conhecimento do terreno, delimitando a zona onde vai decorrer a sessão, identificando e balizando os eventuais “perigos”;
·         Informar a direcção do clube do local exacto do treino;
·         Levar uma caixa de primeiros socorros e um telemóvel (com os números dos bombeiros e das urgências gravados);
·         Preparar os materiais a transportar – balizas, mapas com os percursos traçados, cartões de controlo, “soluções” dos percursos, relógio de partidas, bússolas, canetas, fichas de registo de tempos, observação ou avaliação, etc.

Condução do treino
Preparando antecipadamente e com rigor a sessão, o treinador estará em condições de preocupar-se menos com a sua organização e a segurança dos orientistas e focar mais a sua intervenção no grupo, durante o mesmo. Estará mais disponível para ensinar, intervir e enquadrar os alunos, reagindo com calma às suas necessidades e prestando mais atenção aos alunos com mais dificuldades:
·      Estimulando as iniciativas individuais. No entanto, as tarefas devem ser executadas a pares/trios ou em grupo, enquanto os alunos não estiverem preparados psicológica e emocionalmente para o trabalho individual dentro da floresta – é muito importante o professor estar atento a esta situação, mesmo nos exercícios em espaços conhecidos do aorintista. A Orientação, mesmo em espaços familiares e pouco complexos e conhecidos dos alunos, é uma actividade muito exigente ao nível da autonomia, auto-estima e auto-confiança;
·      Informando de forma clara e completa;
·      Favorecendo a actividade lúdica – principalmente com os orientistas mais novos;
·      Utilizando percursos que funcionem nos dois sentidos, com 1, 2, 3 ou 4 ou mais pontos de controlo – maior número de atletas a praticar simultaneamente, mais tempo na tarefa, mais situações pedagógicas vividas, enfim, mais aprendizagem;
·      Propondo exercícios curtos – é melhor três ou quatro exercícios de 200 a 500 metros do que um só percurso de 1,5 Km. Os exercícios curtos permitem a intervenção atempada do treinador, evitando que o aluno persista no erro. Além disso, podem facilmente ser repetidos;
·      Reduzindo os tempos de espera entre as tarefas – valorização do tempo de prática/tempo na tarefa;
·      Abordando um só tema por sessão;
·      Permitindo aos alunos descobrir um grande número de pontos – favorece a motivação e o êxito;
·   “Tendo na manga” exercícios suplementares quer para os orientistas que progridem mais rapidamente quer para aqueles que progridem com menos facilidade que o previsto;
·      Privilegiando uma boa leitura do mapa;
·     Propondo tarefas que ajudem ao desenvolvimento das capacidades de observação e de planificação do itinerário (projecto de deslocamento) e tomadas de decisão;
·   Retardando a utilização da bússola – o seu uso no início do processo ensino/aprendizagem pode ser prejudicial;
·   Evitando, tarefas com dificuldade excessiva (sensação de fracasso, bloqueios), comparação imediata entre os alunos (medo do ridículo), emoções demasiado intensas (medo do desconhecido, pouca aptidão para a autonomia ou competição);
·  Colocando com frequência os alunos em tarefas de organização e gestão dos seus exercícios: cronometrar, controlar, colocar e levantar balizas, copiar e fazer a auto-correcção dos percursos, etc.
Como em todas as actividades da escola, o objectivo central do ensino da Orientação é tornar as pessoas autónomas, empenhadas e responsáveis.



Ambiente de calma, sem pressão e êxito:
·       É fundamental que nos primeiros treinos a aquisição das técnicas básicas se realizem em condições em que o professor possa ver o desempenho dos alunos. É também importante que cada aluno tenha feed-backs (reacção do treinador à prestação do atleta) imediatos após a conclusão das tarefas: dados pessoalmente pelo professor (conversando ou acompanhando o aluno na repetição da tarefa); ou dado pelas chaves/soluções dos exercícios/percursos que serão afixados;
·    É importante que quem aprende aja correctamente desde o início. Aqui o feed-back pedagógico  é fundamental: tanto na instrução como no desenrolar da repetição do exercício;
·    Para tal, o aluno deve poder concentrar-se com calma nas novas aquisições e tarefas, realizando as primeiras tentativas sem estar pressionado pelo tempo;
·      Os exercícios não devem ser muito difíceis. O professor deve proporcionar aos alunos situações que eles sejam capazes de resolver com alguma facilidade, e sobretudo com êxito.


Depois do treino
No final da sessão o treinador deverá avaliar se os objectivos fixados foram ou não atingidos. Isto consegue-se recorrendo, às observações sistemáticas do comportamento dos alunos, à discussão com eles, à realização de pequenos testes ou trocando mais tarde impressões e experiências com os outros colegas treinadores.

Deverá também proceder à recolha e devida arrumação do material técnico e pedagógico utilizado, para ficar pronto a ser utilizado pelos outros treinadores.


REGRAS PEDAGÓGICAS BÁSICAS NO ENSINO DA ORIENTAÇÃO:

É necessário adoptar um modelo pedagógico onde o principiante se encontre em situação de:
·      Deslocar-se individualmente e em corrida, sempre que possível;
·      Situações-problema que permitam organizar-se, escolher, tomar decisões;
·      Tomar responsabilidades – empenhar-se quer na realização quer na organização dos exercícios;
·      Assumir a responsabilidade dos seus êxitos e dos erros/fracassos;
·      Exercícios em progressão – permitindo a escolha da situação adaptada ao nível de prática dos alunos;
·      Multiplicação do número de balizas e percursos – factores determinantes da aprendizagem;
·      Situações que solicitem a memorização – prática que favorece o progresso e fixa as aprendizagens;
·      Formulação do projecto de deslocamento/itinerário (contar a sua história) – a eficácia pedagógica e o êxito do aluno estão estreitamente ligados a esta formulação;
·      Situações lúdicas;
·      Disponibilidade do treinador para ajudar o aluno nas suas dificuldades – o que só se consegue com a preparação minuciosa das sessões de aprendizagem;
·      Precisão das instruções pedagógicas, das regras de segurança e conduta a seguir em caso de problemas.


QUALIDADES EXIGIDAS AO TREINADOR (EDUCADOR)

·      Ter alguma experiência da modalidade;
·      Capacidade de apresentar o assunto/tema/conteúdo claramente e de maneira concisa;
·      Ser paciente e ao mesmo tempo firme;
·      Ser capaz de explicar a matéria de maneira simples e interessante;
·      Ser capaz de organizar da melhor maneira os alunos;
·      Poder pôr-se ao nível dos alunos do ponto de vista dos seus conhecimentos e da sua maturidade;
·    Saber tratar os alunos da mesma maneira. É muito fácil favorecer os que trabalham bem e os que colocam questões pertinentes …
·      Saber utilizar eficazmente a sua voz. Falar claramente e suficientemente alto e forte, fazendo face aos alunos;
·      Ter o contacto com os alunos. Ouvi-los, respeitá-los e tentar ver o problema do seu ponto de vista;
·      Ser entusiasta e estar de bom humor. O bom humor do professor comunica-se aos alunos e cria vontade de aprender;
·      Ser capaz de utilizar o material áudio visual e informático;
·      Gostar de ensinar. Os alunos devem ter prazer de estar com o educador.



quinta-feira, 10 de maio de 2012

OS PERCURSOS PERMANENTES DE ORIENTAÇÃO (PPOs)


Trata-se de áreas equipadas em permanência para a prática da Orientação, onde são pintados ou espalhados várias dezenas de símbolos da Orientação em pontos característicos do terreno – balizas ou postes, que permanecerão no terreno muito tempo.

Permitem traçar múltiplos percursos e assim contribuir para a aprendizagem e descoberta da Orientação, ao ritmo de cada um, e também para a promoção da modalidade, dificilmente mediatizável.

Pela diversidade de percursos que se pode propor aos utilizadores, os PPOs destinam-se a todos os públicos: alunos das escolas, principiantes e praticantes de Orientação confirmados ou amantes das actividades de ar livre ou pessoas portadoras de deficiência motora – crianças, jovens, adultos e seniores.
O objectivo é escrever o nº de código do posto de controlo ou picotar no cartão de controlo.

Segundo Jorge Baltazar, a existência de percursos permanentes nas escolas e nos espaços verdes circundantes (parques, pequenos bosques, etc.) é de particular interesse para a abordagem da Orientação a nível curricular ou mesmo extracurricular e apresenta as seguintes vantagens:
·     A organização das aulas é facilitada – evita o trabalho longo e fastidioso que representa a colocação e recolha das balizas antes e depois de cada sessão;
·      É prático – menor tempo de gestão da actividade;
·  Possibilita a abordagem da Orientação por todos os professores, mesmo os menos habilitados tecnicamente;
·      Permite ter em actividade um número elevado de alunos de grupos de nível diferentes;
·      Permite que cada um aprenda e descubra a Orientação ao seu ritmo e sem pressões.
 
Desvantagens
·      As acções de confirmação da passagem pelo ponto de controlo são diferentes das utilizadas num percurso formal;
·   Pela razão anterior é possível confirmar a passagem pelo ponto de controlo sem ir ao local, se alguém que foi ao local disser qual é o código de letras (números ou objectos) inscrito no local. 


 
Pintar em elementos característicos do perímetro exterior da escola – edifícios, muros, bebedouros, bocas-de-incêndio, escadas e outros elementos característicos – o símbolo da Orientação com 10 a 15 cm de lado, no qual são inscritas letras ou números (códigos) que os alunos devem transcrever para o cartão de controlo.

Pintar um elevado número de postos de controlo, de forma a possibilitar a marcação de várias dezenas de percursos


 
PERCURSOS PERMANENTES EM PARQUES E FLORESTAS

No exterior, utilizar como material para fazer os postos de controlo, estacas em madeira tratada, do modelo indicado na figura ou similar, que são enterradas. Podem ser também utilizados outros materiais como por exemplo marcos de pedra, fitas ou mangas em plástico rígido que são colocados à volta dos elementos característicos.

Os PPOs na floresta são de acesso livre ao público e da responsabilidade dos praticantes. As crianças e jovens de menor idade deverão ser acompanhados sob a responsabilidade de um adulto.

Apresentam alguns riscos e perigos (de perder-se, acidentes sem auxílio/primeiros socorros, …) se os utilizadores menos preparados não forem cautelosos e não seguirem na prática as recomendações que devem estar anexas ou fotocopiadas no verso dos mapas.
Para o prevenir, e em primeiro lugar, é essencial respeitar a ordem dos postos e escolher o grau de dificuldade do percurso em função da experiência de cada um.
Sempre que possível, será importante implantar os PPOs próximo de estruturas de acolhimento e apoio aos seus utilizadores – cedência ou venda de mapas com ou sem percursos marcados, apoio técnico-pedagógico, balneários, telefone, acesso aos primeiros socorros, instalações sanitárias, etc.
Os praticantes terão assim à disposição mapas com todos os postos marcados, mapas virgens para poderem marcar os seus percursos ou ainda vários percursos marcados, adaptados ao seu nível de prática.
Assim, deverão existir percursos de vários graus de dificuldade – muito fáceis, fáceis, médios, difíceis – em função dos escalões etários e experiência dos utilizadores e das características da área:
·      Percursos acessíveis a pessoas com mobilidade reduzida;
·      Para crianças;
·      Para jovens e adultos;
·      Para praticantes de Orientação confirmados;
·      Percursos de competição.
Para decidirmos onde se devem colocar os postos devemos recorrer a técnicos especializados, da FPO ou dos clubes de Orientação locais – eles melhor do que ninguém saberão escolher e implantar no terreno os postos de controlo: os fáceis para os principiantes e os difíceis para os orientistas confirmados.

Devemos fazer a manutenção regular dos PPOs:
·      Substituição de picotadores ou postes vandalizados ou deteriorados;
·      Renovação da pintura de códigos apagados pelo tempo ou substituição por números diferentes;
·      Modificação do posicionamento dos postos;

Estes procedimentos deverão ser previstos desde o início da sua colocação, utilizando materiais adaptados.





Em situações particulares é ainda possível contribuir para a descoberta do património cultural do lugar ou da região – arquitectura, tradições, modo de vida; do património natural (fauna, flora); do património económico, histórico, etc.  – através de mapas, percursos e actividades adaptados.










quarta-feira, 9 de maio de 2012

A BÚSSOLA – COMO UTILIZÁ-LA EFICAZMENTE



 
A bússola não é indispensável para a prática da Orientação, nomeadamente na fase de iniciação – tem mesmo a tendência em fazer distrair os principiantes da leitura do mapa e do terreno. Nesta fase o aspirante a orientista desportivo deve, fundamentalmente, orientar-se pela leitura do mapa e do terreno, isto é, fazer a relação permanente mapa-terreno e terreno-mapa.

Servindo essencialmente a bússola para nos deslocarmos a direito – para seguirmos a direcção ideal dada pela linha recta – a sua utilização precoce iria levar o iniciado a centrar nela a sua atenção – “ir com o nariz na seta vermelha” – desprezando assim a observação das características do meio em que se desloca e a sua relação com o mapa, sendo incapaz, na maioria dos casos, de determinar a sua posição exacta quer no mapa quer no terreno.

A utilização da bússola deve ser retardada – o seu uso no início do processo ensino/aprendizagem é mais prejudicial do que benéfica.

De facto, numa fase de iniciação é de todo prioritário e essencial que o orientista aprenda a ler o mapa e o terreno e faça a relação entre ambos – deve adquirir uma perfeita compreensão das indicações fornecidas pelo mapa, e isto em relação permanente com a observação do terreno/envolvimento.
O iniciado que faz com exactidão a relação mapa-terreno e terreno-mapa, pode, na maioria dos casos, passar sem a bússola para se deslocar de um ponto para outro dentro da floresta.

Nesta perspectiva, na iniciação à Orientação, a utilização da bússola, não sendo de todo indispensável, surge numa 2ª etapa – quando o orientista já sabe orientar-se sozinho pelo terreno.

Mais tarde, na fase de aperfeiçoamento e na fase de performance (orientista confirmado), o orientista alterna a leitura do mapa com a utilização da bússola durante uma prova, quer para orientar rapidamente o mapa quer fazer visadas e seguir azimutes.


Descrição da “Bússola de Orientação” de iniciação



A bússola de Orientação é feita em plástico transparente para que possamos ler o mapa quando a colocamos em cima dele.

A Placa de suporte
Esta placa transparente é plana e tem gravada uma “seta de direcção”, que indica a direcção que queremos seguir, a do ponto a atingir.

Está munida de uma régua graduada em centímetros e milímetros, que permite calcular as distâncias a percorrer – mede-se no mapa a distância entre dois postos de controlo, para, a seguir, a converter numa distância em metros no terreno, tendo em conta a escala do mapa. Algumas bússolas estão já equipadas com réguas nos bordos transversais da placa, que fazem directamente a conversão dos centímetros em metros para certas escalas (1/15.000 ou 1/25.000).

A placa de suporte pode também estar equipada com uma lupa (que facilita a leitura do mapa) e com dois “moldes”: um triangular (ponto de partida) e outro circular (posto de controlo), que permitem marcar manualmente no mapa os elementos de um percurso de Orientação.

O Quadrante Rotativo

Possui um quadrante rotativo graduado ou “caixa circular móvel”, montado na placa e encerra dentro de si a agulha magnética e o líquido. É esta característica de poder rodar que desempenha um papel importante na medição dos ângulos (Azimutes), permitindo “memorizar” mecanicamente direcções.

A caixa móvel é, assim, o referencial que indica o ângulo de deslocamento (o “Azimute”) em relação a uma referência permanente, o Norte. O objectivo fundamental do azimute é o de permitir ao orientista deslocar-se em linha recta para o alvo (ponto) a atingir.

O Quadrante Rotativo é constituído por vários elementos:
·      O quadrante propriamente dito, que possui nos seus bordos um “limbo graduado” de 2 em 2 graus. A sua escala vai dos 0 aos 360º, descrevendo uma circunferência, e alguns valores estão assinalados com os pontos cardeais: Norte  (360º/0º), Sul (180º), Este (90º)e Oeste (270º).
·      Uma “seta de alinhamento com o Norte” - também chamada “a casa do Norte” – que aponta o grau 0, que corresponde ao Norte. Em vez de uma seta, a “casa do Norte” pode também ser materializada por duas pequenas e grossas linhas brancas paralelas.
É somente quando “o Norte está em casa” – isto é, quando o Norte da agulha magnética coincide com a seta de alinhamento com o Norte - que podemos ler o ângulo de deslocamento. Este ângulo chama-se “Azimute” – a sua medição exprime-se em graus e faz-se sempre no sentido dos ponteiros do relógio. O azimute é, pois, o ângulo formado pela direcção a seguir - ângulo do deslocamento - e a direcção do Norte. A direcção a seguir é-nos dada pela “seta de direcção” gravada na placa de suporte da bússola.
Assim, a direcção e o sentido de qualquer posto de controlo podem ser indicados pelo rumo da bússola - pontos cardeais, colaterais e subcolaterais - ou pelo seu azimute, medido em graus, em relação aos 0º (Norte).
·      Uma rede de “linhas de alinhamento com o Norte”, paralelas à “casa do Norte” - que serão úteis nas técnicas de manipulação da bússola com o mapa, quando colocadas paralelamente aos meridianos deste.
·      A agulha magnética - A extremidade colorida desta agulha, em geral vermelha e branca, roda, mas estabiliza e aponta sempre na mesma direcção: o Norte. A vermelha aponta o Norte e a branca o Sul.
É esta agulha que constitui a bússola propriamente dita.
Está equilibrada sobre um eixo e flutua num líquido que lhe permite estabilizar rapidamente. A qualidade de uma bússola avalia-se pela rapidez desta estabilização – quanto mais rápida for, melhor é a bússola.
Atenção: os objectos metálicos desviam esta agulha …


Manipulação da “Bússola de Orientação” de iniciação:

Numa primeira utilização, a bússola permite orientar o mapa em relação ao terreno, fazendo coincidir a parte Norte da agulha magnética – ponta vermelha – com os meridianos do mapa.

Todavia, a sua principal função é o de permitir unir dois pontos graças ao azimute.

A manipulação de uma bússola exige alguns cuidados:
·      Devemos colocar a bússola sempre na horizontal: para determinarmos com precisão a direcção do azimute a seguir ou quando a consultamos.
·      Devemos escolher e visar com precisão uma referência do terreno - que se localize na direcção a seguir e que se encontre o mais longe possível - e caminharmos até lá sem olhar para a bússola. Chegando a esta referência devemos repetir sucessivamente a operação até alcançarmos o nosso destino - técnica das “visadas ou miras sucessivas”.
·      Não devemos confundir a “seta de alinhamento com o Norte” gravada na caixa móvel (“casa do Norte”) com a “seta de direcção” gravada na placa de suporte transparente. É esta última seta que nos indica a direcção a seguir.
·      Em terreno complexo, muitas vezes é conveniente fazermos a estimativa da distância a percorrer até ao objectivo, utilizando a técnica do “duplo passo”, para evitar passar na proximidade do ponto sem o ver (Aferição do passo).
·      Devemos ainda evitar utilizar a bússola em locais onde existam pontos de atracção magnética – os postos de alta tensão, a presença de uma mina ou um objecto metálico que carreguemos num bolso, podem alterar a direcção da agulha da bússola - utilizá-la horizontalmente, com o braço estendido para a frente, à altura do peito e perpendicular a este.

Orientar rapidamente o mapa pela bússola:
·      Orientar o mapa pela bússola, é colocar em paralelo e no sentido do Norte, os meridianos do mapa (que representam o N) e a agulha magnética vermelha da bússola. Para isso, sempre com a bússola na horizontal junto ao umbigo, devemos alinhar a agulha magnética com os meridianos do mapa, rodando o mapa – “fazer coincidir os dois Nortes” (o Norte do mapa e o Norte magnético).
·      Em caso de dúvidas, a bússola é a melhor ferramenta para nos assegurarmos que o mapa está bem orientado em relação ao terreno.

Técnica de orientação do mapa pela bússola:
·      Preparar a bússola – rodar a caixa móvel até que a ponta da seta da “casa do Norte” fique alinhada com a base (fixa) da “seta de direcção”, ambas a apontar no mesmo sentido.
·      Colocar a bússola em cima do mapa – de modo a que um dos seus bordos longitudinais coincida com os meridianos do mapa e que a “seta de direcção” fique com a ponta dirigida para o Norte do mapa.
·      Orientar o mapa – mantendo o conjunto mapa-bússola nessa posição, rodar todo o corpo até que a ponta vermelha da agulha magnética entre na “casa do Norte” – isto é, “fazer entrar o Norte em casa”.

Metodologia para calcular a direcção de um azimute dado - técnica “1 -2 – 3”:
1.   Rodar a caixa móvel até colocar o valor do azimute face à parte inferior da seta de direcção - “linha de leitura”. Segurar a bússola horizontalmente à frente e perpendicular e à altura ao peito, com a seta de direcção a apontar para a frente.
2.   Mantendo a bússola nesta posição, rodar o corpo até que a ponta vermelha da agulha magnética fique coincidente com a seta que está gravada na “caixa móvel” – “fazer entrar o Norte em casa”.
3.   Com “o Norte em casa”, visar na direcção indicada pela “seta de direcção” e escolher um ponto de referência no terreno o mais longe possível e seguir nessa direcção até ele, sem olhar para a bússola. Repetir este procedimento até chegar ao destino – isto é, deslocar-se pela técnica das “visadas ou miras sucessivas”.

Metodologia para calcular um azimute sobre o mapa - técnica do “1 -2 – 3”:
1.    Posicionar a bússola no mapa - Sem ser obrigatório orientar o mapa, colocamos o bordo longitudinal da bússola sobre o mapa de forma a unirmos o ponto onde nos encontramos com o ponto para onde nos queremos dirigir. Atenção: a ponta da “seta de direcção” deve estar a apontar na direcção para onde nos queremos dirigir.
2.    Calcular o azimute – Uma vez a bússola posicionada, rodar a caixa móvel da bússola de modo a que as linhas que estão no seu interior fiquem paralelas, e no mesmo sentido, com os meridianos do mapa, que indicam o Norte.
Fica assim calculado, sobre o mapa, o ângulo formado pela “seta de direcção” e a direcção do Norte do mapa. O valor deste azimute fica indicado na “linha de leitura”.
3.    Visar/fazer a mira - Segurar a bússola horizontalmente à frente e à altura do peito e rodar o corpo de modo a que a parte vermelha da agulha magnética fique coincidente com a seta que está desenhada na caixa móvel – isto é, “fazer entrar o Norte em casa”. Neste momento a bússola está a apontar na direcção do destino almejado. Olhar em frente, fixar um elemento de referência do terreno o mais longe possível, que fique na linha do azimute e caminhar/correr até ele, seguindo na direcção indicada pela seta de direcção. Repetir este procedimento, fazendo o deslocamento por “visadas sucessivas” até alcançar o objectivo.

Os azimutes são úteis :
·      À saída do ponto de controlo para seguirmos na direcção correcta – deve ser tirada com tanta mais precisão quanto a pernada for curta.
·      Na aproximação à baliza a seguir ao ponto de ataque. O azimute é tanto mais necessário quanto mais pobre for o terreno em detalhes e, portanto, o mapa for pobre em informações.
·      Para evitar alongar a distância em zonas sem “grandes” relevos e cobertas de vegetação.
·      Para atravessar com precisão uma zona de floresta densa. Nestas zonas, somente a bússola é fiável dado que as outras referências habituais, tal como o relevo, são muitas vezes difíceis de ver e/ou de interpretar.
·      Para sair de uma referência de forma arredondada: descer de uma colina, sair de uma depressão, atravessar um limite curvo de vegetação.

De modo a não “embrulhar” os principiantes com explicações muito complicadas, eis algumas indicações expeditas que os podem ajudar a perceber de forma clara e eficaz a utilização da bússola:

ORIENTAR O MAPA E DETERMINAR A DIRECÇÃO DO PRÓXIMO POSTO DE CONTROLO:
1.    Segura o mapa com a bússola colocada em cima, de modo a que o ponto onde te encontras fique perto do teu corpo (umbigo) e que o traço que une o posto seguinte fique diante de ti, na direcção do teu nariz.
2.    Agora roda o corpo com o mapa, até que o Norte do mapa e a agulha vermelha da bússola indiquem a mesma direcção. Atenção: não rodes apenas o mapa – roda também os pés.
3.    O mapa está agora na posição certa, isto é, está orientado. Tu encontras-te atrás do mapa, olhando na direcção do deslocamento. Se a baliza não estiver muito longe deverás vê-la ao levantares a cabeça.

ORIENTAÇÃO GLOBAL EM TRAJECTOS MAIS LONGOS – Bússola sobre o mapa:
1.    Dobra o mapa para o poderes segurar bem. Segura o mapa de modo a que o ponto onde te encontras fique perto do teu corpo (umbigo) e que o traço que une o posto seguinte fique diante de ti.
2.    Coloca o bordo da bússola ao lado e paralela ao traço que une o posto onde te encontras com o próximo posto.
3.    Segura bem a bússola sobre o mapa e roda o corpo até que a parte vermelha da agulha da bússola indique a mesma direcção que o Norte da mapa. Atenção: não rodes apenas o mapa ou a parte de cima do corpo – roda o corpo inteiro. O bordo da bússola assim como a seta de direcção da bússola indicam agora a direcção do próximo posto.
Escolhe um “alvo” o mais à frente possível nessa direcção e corre sem olhares muitas vezes para a bússola. Durante a corrida a bússola permanece na mesma posição em cima do mapa. De vez em quando, verifica a direcção da corrida e corrige-a, apenas se for necessário, seguindo as indicações do passo 3. Continua a fazer estas operações até encontrares o posto de controlo. Não te esqueças de ler o mapa e o terreno para teres a certeza por onde vais.

Em resumo:
·      A tua posição encontra-se perto do umbigo;
·      O trajecto a seguir está na direcção do teu nariz;
·      O ângulo da bússola indica a tua posição;
·      O bordo da bússola está paralelo ao traço de junção dos 2 postos;
·      Roda o corpo para fazeres corresponder o Norte do mapa e o Norte da bússola;
·      Agora encontras-te na direcção do deslocamento: “GO” … “ALLEZ” … “CORRE” …


 
 As bússolas comuns de competição – “bússolas de dedo” - não têm graus nem qualquer outra medida. O azimute não é expresso em graus, mas apenas numa direcção que o atleta estima através da orientação da bússola, indicando a direcção a seguir e permitindo-lhe ter o mapa sempre orientado e utilizar automaticamente a técnica do polegar. O atleta deve simultaneamente ler o mapa e o terreno com muita atenção.






sábado, 5 de maio de 2012

A ESCOLHA DOS ITINERÁRIOS (III)



AS VANTAGENS DA ANTECIPAÇÃO. COMO REALIZÁ-LA
A antecipação faz parte dos 3 automatismos de base a adquirir em Orientação. De facto, é essencial “ter a cabeça à frente das pernas” (ver antes de agir). É pela leitura do mapa que a antecipação se torna possível. E quanto mais a representação que o mapa transmite ao orientista é clara e rapidamente compreendida por este, tanto mais tempo fica na sua memória – neste estádio, a leitura do mapa é realmente eficaz.

A antecipação deve fazer-se em 3 momentos distintos:
1.    Itinerário de ligação entre dois pontos de controlo;
2.    Na aproximação à baliza;
3.    Escolher o itinerário vários pontos de controlo antes.

Iremos falar aqui do primeiro caso – realização do percurso entre um ponto de controlo e o ponto de ataque selecionado para o ponto seguinte. Assim, neste caso, poderemos por em evidência três vantagens em antecipar, em função dos três níveis de prática.


As vantagens da antecipação
Na iniciação – o orientista procura antecipar para não parar de correr e poder encadear o percurso parcial sempre em corrida. Esta competência automatiza-se ao mesmo tempo que outras competências que têm a mesma finalidade: fazer as provas sempre a correr (corrida contínua). Isto é:
·      Estar disponível para observar o terreno em corrida – os elementos da paisagem chegam mais depressa do que marchando;
·      Saber ler e interpretar o mapa em corrida;
·      Saber fazer um azimute com precisão com a bússola e segui-lo, sempre em corrida.

Na fase do aperfeiçoamento – a antecipação é uma ajuda mental muito preciosa para o orientista permanecer concentrado durante toda a prova. O orientista que antecipa ao longo dos itinerários mantém permanentemente o seu espírito virado para o objectivo a atingir e evita as fases de desconcentração que lhe podem ser fatais.

Na fase da performance – a antecipação tem a ver com a auto-confiança – o orientista que antecipa, sabe, por definição, por onde vai.


Como antecipar, progredindo no itinerário de ligação entre dois pontos de controlo ?

Antecipar em Orientação, é prever, graças à leitura do mapa, os elementos do terreno que o orientista irá encontrar. Trata-se de cortar o itinerário em pequenos troços (fragmentos). Esta divisão não é pre-estabelecida no momento em que o orientista escolhe o itinerário. Ele opera à medida que progride no terreno. É a representação mental de um elemento característico do terreno que há-de aparecer e de outros elementos intermédios que ele selecionou e que espera ver, que definem cada troço. Deste modo, ele sabe sempre onde está. Não forçosamente no mapa, mas em relação ao troço que ele fez do itinerário.

A dificuldade consiste em simplificar esta operação. Quer dizer, em reduzir o número de objectivos intermédios – e, portanto, o número de troços – escolhendo-os de entre os mais fáceis de encontrar.

A partir do momento que o orientista domina este automatismo, sabe permanentemente que está “em rota” para o elemento selecionado. Tem confiança. Trata-se de um trunfo psicológico muito “performante”. E tanto mais quanto a antecipação permite ao atleta detectar mais facilmente os erros que comete e evitar que lhe custem muito caro.


REFERÊNCIAS:
·      Jean-Daniel Giroux, 2003;