quinta-feira, 27 de setembro de 2012

EVOLUÇÃO DOS COMPORTAMENTOS CARACTERÍSTICOS DO PRATICANTE DE ORIENTAÇÃO (I)





“ São precisos 10 minutos para aprender a utilizar uma bússola …
 e 10 anos para se tornar num orientista experimentado “.

O “PRINCIPIANTE” – estádio emocional

O debutante em Orientação fica entorpecido no mesmo lugar ou precipita-se à procurar das balizas sem reflectir ou fazer a previsão do itinerário, donde resultam numerosos erros de orientação. Ainda não integrou a lógica da actividade. O principiante centra prioritariamente a sua actividade nas emoções –  predomina uma reacção de defesa em relação ao desconhecido (preservação da sua integridade)…


Tratamento da
Informação


O principiante trata a informação à medida que se desloca, sem reflectir sobre o futuro. Referencia-se pelos elementos do mapa, uns a seguir aos outros, seguindo um pouco a linha recta que une os dois pontos de controlo.

Decisões

As decisões são simples e não têm em conta os “pontos de decisão”.
Não controla as opções que toma.



Aspecto
Afectivo


As reacções afectivas são importantes: medo de se perder, seja qual for o grau de familiarização com o meio envolvente – mesmo em espaços familiares:  escola, jardim, etc. Permanece em cima das “linhas de segurança” (corrimões) e faz com muita frequência a relação mapa/terreno.




Aspecto
Energético


Não controla o seu potencial energético: o seu comportamento traduz-se numa sucessão de corridas rápidas e ofegantes com paragens.





Soluções
Adoptadas


Só pensa em encontrar a primeira baliza do percurso.
A solução utilizada é a de seguir os aceiros de um lado para o outro. O itinerário é concebido como uma sucessão de pequenos itinerários sem relação entre si, apoiando-se nos elementos do terreno mais fáceis e evidentes. Após uma longa demora reage e reconstroi o seu projecto de itinerário – a acção predomina em relação à avaliação, dado que as suas estimativas são a maior parte das vezes aleatórias.


ASPECTOS PEDAGÓGICOS E DIDÁCTICOS:

O iniciado deve poder sentir-se em segurança na floresta. Este sentimento desenvolve-se através de: jogos e exercícios de habituação à floresta, não muito difíceis e de resolução viável; os primeiros passos devem ser realizados em espaços conhecidos; fixando limites claros no terreno (balizados) e no tempo; organizando os mais jovens em pequenos grupos; dando regras de segurança, sem dramatizar, sobre a maneira de reagir face a situações imprevistas e desconhecidas.
O treinador/professor deve ajudar o orientista a evoluir de uma atitude de apreensão pelo meio ambiente, resultante de uma não diferenciação dos elementos, para uma atitude de gestão das emoções, de confiança relativa, graças ao reconhecimento dos elementos do terreno e sua utilidade.

OBJECTIVOS DIDÁCTICOS:
·  Solicitar a observação do terreno e do mapa – descodificar a simbologia e sinalética (comparar os elementos do terreno e os símbolos do mapa; conhecer a legenda);
·      Situar-se e deslocar-se através das linhas de segurança;
·   Manter o mapa orientado (atenção às mudanças de direcção). Deslocar o polegar sobre o mapa em função da sua progressão (o polegar indica o local onde ele está – em cada paragem, o polegar está no local correcto ?);
·      Descobrir um meio geralmente inabitual e estranha;
  
Indicações para o traçado dos percursos: 
                        Propôr um único itinerário;
·                      Itinerário em cima de linhas de segurança;
·                Os pontos de controlo estão em cima das linhas de segurança e em elementos do terreno perfeitamente referenciáveis: junção de caminhos, limites de vegetação, …

O debutante deve aprender:
·                  A situar-se – procurar elementos de referência no mapa, orientar o mapa, situar-se com precisão no mapa;
·                     A deslocar-se – dobrando o mapa, a fim de delimitar a área onde se encontra; ter o mapa orientado com o polegar no local onde está; reorientar o mapa após cada mudança de direcção;
·                            Descodificar sozinho o mapa – suprimir a legenda nesta fase de aprendizagem;
·                            A correr em todo-o-terreno;
·                           A deslocar-se em terreno rústico (floresta) sem apreensão.

LÉXICO DO ORIENTISTA INICIADO:

Ponto (posto) de controlo – conjunto composto por uma baliza, picador (ou caixa electrónica) e de um ponto característico do terreno – com a sua definição gráfica (símbolo) quer no mapa quer no cartão de sinalética. 

Ponto de referência (bem visível) – ponto muito preciso e de fácil leitura no mapa e facilmente referenciável no terreno.

Linha de segurança – linha ou conjunto de pontos referenciáveis no mapa, que o orientista pode facilmente seguir no terreno.

Ponto de apoio – ponto facilmente referenciável, que permite ao orientista (re)situar-se entre dois pontos de controlo.

Ponto de decisão – ponto visível, quer no mapa quer no terreno, que obriga o orientista a escolher uma direcção.

Ponto de ataque – o último ponto de referência antes do ponto de controlo, supostamente seguro e escolhido pelo orientista, no momento da leitura do mapa.

Linha de paragem – ponto de referência, no mapa, que permite verificar se já ultrapassamos a zona ou o ponto de controlo que procuramos.

REFERÊNCIAS:
·                Dominique Bret, 2004;
·                Denis Fogarolo e Gilles Stryjak, 2001;
·                FFCO, 1999;
·                EFSM Macolin. 1993.

 (continua)



segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A ORIENTAÇÃO NA ESCOLA em Mapas Simples




INTRODUÇÃO
De onde venho?  Onde estou?
Para onde vou?
Por onde vou?
Saber orientar-se utilizando um mapa, isto é, poder deslocar-se com à vontade e segurança de um ponto para outro, em qualquer ambiente novo e desconhecido, utilizando a representação gráfica desse meio – croqui, planta, mapa, carta topográfica, carta militar, … – fazendo a relação espacial do desenho com a realidade, é um objectivo educativo de base da escola de hoje.
Mais tarde ou mais cedo, toda a gente será confrontada com um mapa da cidade, da estrada, com situações de turismo pedestre, viagens ferroviárias, etc.
A leitura de um mapa e a orientação são, pois, actualmente, competências necessárias em numerosas situações: na cidade, aquando de um deslocamento académico ou profissional, em viagem ou na prática de um desporto de ar livre, etc.
E, na realidade, implica várias competências difíceis de adquirir teoricamente. Nada melhor do que iniciar com exercícios práticos que utilizem croquis e mapas de áreas conhecidas e seguras.
A iniciação em mapas simples vai permitir que os alunos abordem em progressão, cada passo, cada competência, evoluindo do conhecido para o desconhecido:
·      Sala de aula e Ginásio – noção de símbolo, croqui e mapa.
·      Perímetro escolar e espaços circundantes, meios mais ou menos conhecidos – aplicação dos conhecimentos adquiridos em meios seguros.
·      Floresta, meio desconhecido – aplicação dos conhecimentos adquiridos, em meio desconhecido, – sempre que possível.
A aprendizagem da Orientação na escola em mapas simples, além de permitir resolver esta competência educativa e utilitária básica, faz ainda a ponte com a Orientação desportiva, modalidade conhecida no mundo do desporto como “O Desporto da Floresta”.
As capacidades que a Orientação desportiva permite desenvolver – autonomia, decisão, auto controlo, observação, reflexão, auto responsabilização, sem falar no desenvolvimento das capacidades funcionais e coordenativas – resistência, força, flexibilidade, velocidade, agilidade,... e o grande contributo para a educação ambiental – justificam o seu ensino ao longo de toda a escolaridade.


CONTEXTO
A Orientação como desporto de ar livre, praticado na natureza, embora faça parte dos programas nacionais de Educação Física, raramente entra nos conteúdos de ensino da Educação Física e Desporto Escolar nas nossas escolas.
Para a esmagadora maioria dos estabelecimentos de ensino – por razões relacionadas com a falta de tempo/horários, distâncias a percorrer até às áreas cartografadas, custo elevado dos recursos materiais necessários (transportes, mapas específicos e outros materiais didácticos), formação específica dos professores, … – esta actividade só é viável de realizar no interior das escolas ou espaços circundantes, utilizando mapas simples (plantas, croquis, …).
A Orientação é a actividade de ar livre mais simples e barata de pôr em prática – uma pequena zona arborizada, um simples terreno desocupado, a área de um complexo desportivo, de um estádio, de um jardim ou parque público ou de uma escola, … podem facilmente permitir a aprendizagem das técnicas de base da Orientação.
Podemos praticar Orientação em qualquer espaço, desde que cartografado. Em função das condições de prática oferecidas pela escola, o professor poderá desenvolver a actividade em espaços como: ginásios, campos de jogos, perímetro escolar, estádios, parques/jardins municipais, etc. – e, sempre que possível, em áreas de floresta.
As escalas utilizadas na iniciação deverão ser da ordem de 1:2.000, 1:5.000, 1:7.500 – e só depois as escalas oficiais: 1:10.000 e 1:15.000.
Comecemos então por ensinar a Orientação nas aulas de Educação Física e actividades internas do Desporto Escolar, dentro da escola e/ou áreas circundantes.

Com facilidade o professor de Educação Física pode produzir croquis de salas de aula, do ginásio/pavilhão, o Mapa Simples da escola, pintar meia centena de postos de controlo fixos em elementos característicos do perímetro escolar (“Percurso Permanente de Orientação”) – que lhe irão permitir traçar várias dezenas de percursos de diferentes graus de dificuldade – e organizar o Dossier de Orientação …
As técnicas de orientação de base, o “Espírito da Orientação”, os regulamentos e a organização de provas e convívios, o material utilizado, … são em tudo idênticos aos utilizados na floresta, com algumas vantagens: há mais segurança (física e psicológica); podemos tocar todos os alunos de uma escola.
A iniciação à Orientação dentro da escola, poderá assim fazer parte do Projecto Curricular de Educação Física, após algum investimento e esforço iniciais.
Não nos esqueçamos também que, em termos de desenvolvimento desportivo, a Orientação tem todas as vantagens em ser implantada na escola, pois é ela o local privilegiado para o processo ensino/aprendizagem inicial, garantidas as condições mínimas indispensáveis de prática: formação específica dos docentes, mapas, material didáctico, leque de actividades e jogos relacionados com a iniciação à Orientação desportiva…

O entusiasmo e a motivação pela modalidade quer dos alunos quer dos professores são reais.
A dificuldade está em criar as condições mínimas de prática e as metodologias indispensáveis dentro da escola.

Para tal, a FPO poderá ter também uma palavra a dizer:
·      Quer na ligação entre as escolas, o Desporto Escolar e os clubes de Orientação locais.
·      Quer no apoio à produção e edição de mapas.
·      Quer na organização de cursos de formação (inicial e reciclagem) para professores.
·      Quer na implementação de percursos permanentes em escolas, parques e florestas circundantes.
·      Quer ainda no apoio à produção e aquisição de material pedagógico e didáctico e organização de actividades.
… fazendo assim a ponte com a modalidade federada …


DEFINIÇÃO
É por volta dos 10 /11 anos que as crianças estão suficientemente maduras para lidar com os conteúdos mais abstractos relacionados com a leitura e interpretação do mapa de Orientação – no entanto, há crianças de 7/8 anos intelectualmente ao nível das de 10 anos, capazes de fazer percursos simples de iniciação.
De uma maneira geral, podemos definir a Orientação como “corrida individual, contra relógio, em terreno desconhecido e variado, geralmente de floresta ou montanha, num percurso materializado no terreno por postos de controlo que o orientista deve descobrir numa ordem imposta. Para o fazer, ele escolhe os seus próprios itinerários, utilizando um mapa e, eventualmente, uma bússola”.
Ao praticante (“corredor todo o terreno”) é-lhe imposto:
·      Passar por todos os postos de controlo, por ordem obrigatória, no menor tempo possível.
·      Tomadas de decisão na escolha do itinerário – o orientista é “uma máquina de fazer itinerários”.
·      Respeitar os regulamentos relativos à modalidade, à segurança e ao meio ambiente – o “Espírito da Orientação”.
Orientação é sobretudo a escolha de itinerários, através da leitura e interpretação do mapa e da relação deste com o terreno.
É uma actividade em que o praticante deve decidir sozinho, ser responsável pelas suas tomadas de decisão, assumir e responsabilizar-se pelos seus êxitos e pelos seus erros e fracassos – aqui a culpa não é do árbitro …
Um percurso de Orientação, consiste, pois, num deslocamento composto por três fases sucessivas:
1.    Uma fase de referência com o mapa (localização no mapa, orientação do mapa, relação mapa-terreno) – De onde venho?Onde estou?)
2.    Uma fase de escolha do itinerário (Para onde vou?), a partir de:
v “corrimões ou linhas de segurança” - por onde quero seguir: pelo lado esquerdo do ginásio, junto ao canteiro, …
v pontos de apoio - que sucessivamente vão confirmando o meu itinerário: viragem à esquerda, boca de incêndio, canto do pavilhão, …
v pontos de decisão - os locais onde mudo de linha de segurança
v saltos/atalhos - locais onde posso cortar, atalhar
v linhas de paragem - linhas, espaços, facilmente identificáveis que não posso ultrapassar, ou as linhas, espaços ou objectos facilmente identificáveis onde devo chegar quando faço um atalho
3.    Uma fase de realização do itinerário, com reajustamentos em função da validade das escolhas e da natureza real do terreno – Por onde vou?

Em meio escolar, podemos definir a Orientação como “uma corrida individual ou em pequenos grupos, contra-relógio ou em tempo limitado, em terreno variado e isento de qualquer perigo objectivo, em percursos materializados por postos de controlo que o aluno deve descobrir por ordem obrigatória ou não, por itinerários da sua escolha, servindo-se de um plano cartográfico ou de um mapa e, eventualmente de uma bússola".
Com alunos muito jovens com pouca autonomia e auto-confiança ou em função dos locais de prática e das condições de segurança, o professor deverá propor inicialmente situações a pares/trios ou em pequenos grupos. Progressivamente o professor irá solicitando o trabalho individual, à medida que os alunos ganham auto-confiança e autonomia na realização das tarefas.
Poderá também reduzir a pressão temporal, recorrendo a uma metodologia que favoreça apenas a procura dos postos de controlo.
A utilização da bússola deve ser retardada – o seu uso no início do processo ensino/aprendizagem é frequentemente mais prejudicial do que benéfica.
De facto, numa fase de iniciação é de todo prioritário e essencial que o aluno aprenda a ler o mapa e o terreno e faça a relação entre ambos – devemos ajudar o aluno a adquirir uma perfeita compreensão das indicações fornecidas pelo croqui ou mapa, e isto em relação permanente com a observação do terreno/envolvimento.
O aluno que faz com exactidão a relação mapa-terreno e terreno-mapa, pode, na maioria dos casos, passar sem a bússola para se deslocar de um ponto para outro quer dentro da escola quer dentro da floresta.
Servindo essencialmente a bússola para nos deslocarmos a direito – para seguirmos a direcção ideal dada pela linha recta – a sua utilização precoce iria levar o aluno a centrar nela a sua atenção (“ir com o nariz na seta vermelha”), desprezando assim a observação das características do meio em que se desloca e a sua relação com o mapa, sendo incapaz, na maioria dos casos, de determinar a sua posição exacta quer no mapa quer no terreno.
Na iniciação à Orientação na escola e espaços circundantes, a utilização da bússola, não sendo de todo indispensável, surge numa 2ª etapa – quando o aluno já sabe orientar-se sozinho pelo terreno – como aquisição técnica com “transfert” para a Orientação na floresta e como conteúdo utilitário.
Assim, a utilização da bússola na floresta, justifica-se nas seguintes situações exemplo:
·      Em áreas sem relevo “falante”, em áreas onde as árvores são todas iguais, em áreas abertas, nuas, sem dunas ou relevo – isto é, quando o mapa e o terreno não apresentam referências suficientemente características para orientar o mapa ou para determinar o itinerário – orientamos então o mapa pela bússola.
·      Quando um obstáculo inultrapassável nos obriga a uma mudança provisória de direcção, sendo necessário contorná-lo – retomamos então a direcção inicial.