sábado, 4 de fevereiro de 2012

RITMO DE CORRIDA VS. TÉCNICA DE ORIENTAÇÃO



A gestão do ritmo da corrida constitui um ponto-chave para o êxito em Orientação, por várias razões:

·         Quando o orientista produz um esforço muito intenso fica na chamada “zona vermelha” e deixa de estar suficientemente lúcido para se orientar corretamente. E mesmo que ainda não esteja fisicamente na zona vermelha, pode estar contudo a correr depressa demais para as suas competências técnicas atuais – diz-se então que está em “velocidade de perda”, dado que com este ritmo já não pode:
Ø  Ler corretamente o mapa;
Ø  Seguir com precisão um azimute;
Ø  Antecipar e verificar se o que ele vê corresponde àquilo que ele memorizou.

A velocidade de perda varia de indivíduo para indivíduo em função dos seus automatismos técnicos e depende igualmente da complexidade do terreno, da densidade da vegetação, da legibilidade do mapa …

Uma vez mais, a capacidade de concentração, o “estar aqui e agora”, é fundamental, porque é neste estado mental que o atleta pode sentir conscientemente o seu nível de esforço, e é capaz de o baixar – por exemplo, na aproximação ao ponto de controlo, adotar corretamente a “leitura zoom” a partir do ponto de ataque.

·         Inversamente, a partir de um certo nível técnico, o orientista que corre devagar pode realizar o percurso sem falhas – desta vez é o seu ritmo de corrida que vai limitar a sua performance.


Procedimentos a seguir para uma gestão eficaz do ritmo de corrida:

·         Antes de mais, o orientista deve dar prioridade a “um ritmo de corrida sem erros” – mesmo que na prática a corrida perfeita não exista, deve contudo ser um objetivo a atingir. O atleta deve, assim, começar os treinos de Orientação no início da época (período preparatório) bastante devagar e sem erros técnicos, podendo aumentar de seguida progressivamente o ritmo de corrida.

·         Para permanecer competitivo durante a prova, o orientista deve antecipar os problemas, geri-los, e não se deixar surpreender por eles. Isto significa que o atleta nunca deverá correr a uma velocidade tal que seja incapaz de:
o   Escolher os itinerários com antecipação;
o   Antecipar, pela leitura do mapa, os elementos característicos do terreno que irão aparecer;
o   Preparar o sportident (cartão de controlo) antes de chegar ao ponto de controlo.

·         Nunca se esquecer, apesar da sua frescura física, de moderar o ritmo de corrida quando se dirige para o 1º ponto de controlo, para poder “entrar bem” e com confiança no mapa.


A gestão da alternância de ritmo – lento e rápido – é uma das maiores dificuldades dos atletas que trabalham para melhorar a sua performance.

Nesta perspetiva, o orientista deve ser capaz de referenciar através da leitura do mapa:
·         As zonas do itinerário onde deve abrandar o ritmo para fazer uma relação mapa-terreno de precisão (a maior parte das vezes na aproximação ou à saída das balizas);
·         As zonas do itinerário em que, pelo contrário, deve forçar o ritmo, por não ter necessidade de uma leitura de precisão do mapa ou do terreno – quando tem como pontos de referência elementos do terreno bem evidentes (que não pode falhar !).

É tentando aproveitar sistematicamente os caminhos que o orientista pode aumentar o ritmo de corrida. É preciso não se esquecer que é nas porções fáceis do terreno (caminhos, prados) que deve ao máximo aproveitar para ler o mapa e antecipar – é nestes locais que a perda de tempo devido à leitura do mapa é minimizada. O orientista deve portanto aproveitar os caminhos para antecipar.

Por outro lado, estes tempos de leitura não devem ser muito longos – quanto mais rápida e clara for compreendida a representação do mapa, mais tempo esta imagem irá permanecer na memória. Isto significa que, para o atleta fazer uma leitura eficaz do mapa, deve ser capaz de:
·         Representar mentalmente o terreno desenhado no mapa (compreensão clara);
·         Construir rapidamente esta representação mental, isto é, a partir de um curto tempo de leitura (compreensão rápida).

O orientista deve igualmente ser capaz de adequar o seu ritmo de corrida nos diferentes itinerários, nos  curtos e nos longos:
·         Nos curtos, o ritmo não é primordial. Há mais tempo a perder do que a ganhar. São geralmente traçados para os percursos técnicos, de tal forma que os pontos de controlo com pernadas curtas são geralmente técnicos, onde a opção mais rápida fica normalmente fora dos caminhos. A maior parte das vezes situados em zonas (muito) detalhadas, estas balizas exigem um ritmo de corrida menos rápido para permitir o contacto mapa-terreno. De nada serve correr depressa, é preciso correr corretamente. A qualidade da saída do ponto é primordial.
·         Nos longos, o ritmo de corrida é bem mais importante. O orientista experiente procura a maior parte das vezes os caminhos rápidos e evita os desníveis. Deve desconfiar das opções muito fáceis, sobretudo se o terreno é relativamente complexo – num percurso bem traçado, as opções mais rápidas raramente são as mais evidentes de ver ao primeiro golpe de vista.
É nestes trajetos longos que o orientista poderá aproveitar para antecipar o resto do percurso, nomeadamente a escolha dos itinerários mais complexos. Por outro lado, e sobretudo para os atletas que habitualmente exageram na velocidade, ao adotarem este ritmo de corrida propício à leitura do mapa – quer para antecipar quer para regular a sua progressão – evitam desta forma um regime prejudicial a uma boa execução técnica.


Como deve o orientista reagir tecnicamente à fadiga ?

À medida que o tempo passa e o esforço aumenta, vai-se instalando a fadiga e com ela surgem os erros – seja qual for o nível do atleta. As perdas de tempo quebram a fluidez e o ritmo da prova e enfraquecem o capital físico e moral do atleta.

Mesmo nas provas quase perfeitas, a fadiga pode fazer-se sentir na parte final do percurso – os traçadores de percursos reservam normalmente uma parte mais técnica para a última parte da prova, e é geralmente aqui que se joga a classificação final dos orientistas. Neste momento, a fadiga não é apenas física, ela é também mental – o atleta deixa de ter vontade de ler o mapa e a orientação perde todo o seu rigor. Torna-se pois absolutamente necessário ultrapassar este estado de espírito.

É nos treinos que o orientista se irá habituar a suportar as grandes cargas mentais e de longa duração.

Por outro lado, é também na parte final da prova que os automatismos técnicos adquiridos irão ter ainda mais importância. O atleta terá verdadeiramente mais chances em continuar a fazer um azimute à saída do ponto de controlo, se tiver esta técnica automatizada – caso contrário, com a fadiga, é pouco provável que pense em fazê-lo.

Na parte final das provas, o orientista deve, pois, adotar um comportamento idêntico ao adotado no início do percurso (1º ponto), concentrando-se ao máximo.  


REFERÊNCIAS:
·         Jean-Daniel Giroux, 2003












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