sexta-feira, 25 de novembro de 2011

CARACTERÍSTICAS DA ORIENTAÇÃO ( II )


O treinador de Orientação observa o comportamento do atleta fora do contexto da competição
Em Orientação o treinador não tem possibilidade de retirar a mesma quantidade de informação sobre o comportamento dos atletas em contexto de competição quanto os treinadores de outras modalidades desportivas.
Ao contrário dos desportos colectivos e da maioria dos desportos individuais, o treinador de Orientação muito raramente pode observar o comportamento dos seus atletas no terreno.
A sua observação é realizada fora de tempo, fora do contexto de competição – não há observação directa.
Para se poder compreender o funcionamento do orientista na floresta, é fundamental que o atleta faça a análise técnica dos itinerários e a autoavaliação dos seus comportamentos – que devem ser realizadas a “quente”, nas 48 horas a seguir à competição ou treino – utilizando os meios actualmente disponíveis, a saber, as grelhas de análise manual e os meios tecnológicos modernos (GPS).
Estes programas de análise do GPS, em permanente evolução, permitem sobrepor no mapa o registo do itinerário efectivamente realizado pelo atleta – o seu traçado aparece em diferentes cores conforme a velocidade de andamento, sendo igualmente disponibilizados os tempos intermédios e a velocidade média entre cada ponto de controlo, bem como, o tempo total realizado.
O cruzamento entre estes dados – os disponibilizados pelos dispositivos tecnológicos e os retirados das tradicionais grelhas de análise manual – têm por objectivos:
·      Visualizar e analisar as opções; verificar se os objectivos dos treinos foram respeitados; detectar eventuais erros ou dificuldades de leitura do mapa ou de orientação;
·      Comparar o trabalho efectivamente realizado com o trabalho percepcionado pelo atleta; comparar os percursos entre atletas;
·      Verificar se efectivamente o atleta passou pelos pontos de controlo – em situações em que o treinador não dispõe de tempo para colocar/levantar as balizas do terreno;
·      Motivar os atletas, devido ao registo das informações retiradas, relativamente às performances realizadas – qualidade e eficácia técnica das opções realizadas, velocidade média de corrida, distância realizada, etc.
Para que estas análises e conclusões exerçam plenamente os seus efeitos, e favoreçam a continuidade pedagógico-didáctica entre as sessões de treino, é importante que o atleta utilize regularmente esta metodologia, cumpra com rigor os procedimentos a seguir e registe e guarde os dados recolhidos no seu Dossier de Competição/Diário de Treino.
A consulta destes dados fornecerão informações muito importantes sobre o atleta, para quando for necessário: comparar os resultados de várias competições; melhor conhecer os seus pontos fortes e fracos – estabelecendo uma lista com as possíveis causas dos erros cometidos; reconhecer em que tipos de provas e terrenos comete erros mais frequentemente; planificar a fase ou época seguinte; etc.
Sublinhe-se igualmente, que as novas tecnologias aplicadas à Orientação permitem actualmente o acompanhamento em directo dos eventos ao nível do GPS e que o site “WorlofO” possui um sistema em que, utilizando ficheiros do “Quick Route”, o treinador consegue ver e comparar em directo vários atletas ao mesmo tempo.
Orientista: tornar-se o responsável principal pelo seu próprio treino
Da especificidade anterior, isto é, tendo em conta a lógica interna da modalidade – o atleta está mais tempo sozinho do que acompanhado pelo treinador e é o único que sabe exactamente o que fez na floresta – o orientista deve procurar a máxima autonomia possível na condução do seu próprio treino ao longo da sua formação.
Esta autonomia deve iniciar logo nos primeiros anos de treino, com a organização regular, cuidada e meticulosa do Diário de Treino, reservando nele um espaço quantitativo – onde o atleta registará todos os dados relacionados com o local, data, tempo e conteúdo de treino, bem como o registo de dados fisiológicos e dos testes da condição física, relacionados com a frequência cardíaca, índice de massa corporal, desenvolvimento muscular,  etc. – e um espaço qualitativo – onde o orientista registará os dados das análises técnicas e tácticas resultantes do preenchimento manual das grelhas de análise dos percursos e dos dados fornecidos pelos aparelhos das novas tecnologias, bem como das reflexões resultantes das conversas com o treinador e com os colegas, nas competições, treinos e estágios ao longo da época.
Estes procedimentos contribuirão para melhorar a sua performance e para a fixação e adaptação de objectivos de treino e planificação da próxima fase do treino ou da próxima época.
Não basta registar apenas o seu palmarés …
Para evitar erros de treino, que poderão ter consequências mais ou menos graves, é importante que o atleta adquira ao longo da sua formação conhecimentos teórico-práticos sobre o treino em Orientação, tais como: regulamentos e técnicas específicas de orientação; princípios e leis básicas do aquecimento e do treino; treino mental; reforço muscular e estiramentos desportivos; nutrição do desportista; técnicas de corrida em diferentes tipos de terreno; etc.
Outros aspectos importantes inerentes à prática das actividades realizadas ao ar livre, tais como os relacionados com primeiros socorros, segurança e protecção da natureza, deverão igualmente fazer parte do background do praticante de Orientação.
Será também interessante disponibilizar os dados recolhidos pelos programas de GPS dos vários atletas do grupo e das selecções nacionais, para todos os analisarem e compararem entre si.
Estes conhecimentos serão transmitidos durante os treinos e estágios e estarão condensados e à disposição dos atletas, no site do clube e/ou da FPO, em área específica e privada.
O treinador/seleccionador poderá igualmente ter uma ideia da taxa de utilização e do espaço de tempo que medeia entre a edição e a utilização destas ferramentas de treino, que traduzirá o grau de motivação e empenho dos atletas.
Hélder e Emanuel

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