quinta-feira, 19 de abril de 2012




CRIAR UMA BIBLIOTECA DE IMAGENS MENTAIS

“… actualmente, o que faz a diferença entre os orientistas de alto nível, é a velocidade com que
cada um constrói a sua imagem mental simplificada do terreno” – Thierry Gueorgiou

O orientista tem necessidade absoluta de armazenar na memória grande quantidade de imagens do terreno com a correspondente associação aos diferentes símbolos do mapa. Esta competência ultrapassa largamente a simples aprendizagem da legenda.
Mesmo com poucas saídas para a floresta o orientista iniciado aprende rapidamente o significado da maioria dos símbolos. Mas isto é insuficiente para lhe permitir uma boa relação mapa-terreno, exigida pela competição.

Por exemplo: no estádio inicial de aprendizagem, a leitura da cor amarela do mapa apenas lhe transmite um saber teórico – é por um esforço voluntário de memória (certamente simples) que ele irá reconhecer que se trata de áreas abertas. Isto leva a uma perda de tempo na leitura e compreensão do mapa.

Sabe-se também que o estado mental do orientista depende estreitamente da sua forma física: com a fadiga – a seguir a uma subida, no final da prova …  – a leitura é mais lenta e maior o risco de errar.

É preciso ultrapassar este nível inicial de aprendizagem e atingir o nível em que a leitura da cor amarela reenvie diretamente imagens mentais de terreno de área aberta. Isto só é possível se o atleta constituir uma biblioteca o mais fornecida possível de imagens mentais do terreno.

Esperar passivamente que se vão desenrolando as provas da época, é, seguramente, um meio pouco eficaz para se alcançar esse estádio de desenvolvimento mental – numa competição, a leitura do mapa e do terreno é muito seletiva e poucas associações se retêm do percurso (símbolo/imagem do terreno).

Será bem melhor fazer, por exemplo, longas saídas para a floresta, para se ir constituindo um bom repertório de imagens. O que interessa é ver no terreno o máximo de detalhes que se encontram desenhados no mapa – um pouco como se fossemos verificar o trabalho dos cartógrafos ou como se fossemos marcar um percurso:
·      “O que parece este pequeno arbusto marcado a verde 2 no mapa nesta zona branca ?” E esta fonte ? E esta pequena clareira ?
·      E esta outra clareira com vegetação rasteira ?
·      E esta terceira clareira que não tem limite ponteado ?
·      E esta encosta com curvas de nível muito juntas, seria preferível subi-la a direito ou correr de flanco ?”
·     

É necessário “gastar” tempo a observar com pormenor os elementos do terreno, experimentar “vivê-los” como em corrida – grau de inclinação das encostas, penetrabilidade da vegetação, humidade dos terrenos alagadiços, instabilidade das zonas rochosas …

Este exercício pode fazer-se a andar, sob a forma de “mapa- promenade”, como o fazem muitos orientistas de alta competição nos seus treinos técnicos durante os períodos em que se encontram lesionados e impedidos de correr. É também praticado na véspera ou na ante-véspera de uma prova importante aquando das “provas modelo”.

Nesta perspectiva, não é necessário com este exercício o orientista ter-se que deslocar centenas de quilómetros para aprender a orientar-se em terrenos muito técnicos. Um terreno cartografado com precisão, se possível com grande variedade de detalhes, é suficiente, mesmo se, por exemplo, as pequenas reentrâncias rendilhadas se encontrem junto à borda dos caminhos ou perdidas no meio da floresta.

O orientista não deve hesitar em sair para os mapas perto da sua residência, que ele crê conhecer de cor e salteado … pois eles constituem, sem dúvida, um suporte para uma completa exploração …

A partir do momento que se começa a construir uma importante colecção de imagens mentais, a relação mapa-terreno “nos dois sentidos” começa a simplificar-se:
·      A partir da leitura do mapa – antecipar os elementos do terreno que o orientista irá encontrar é mais fácil. Imagens precisas e relativamente fieis vêm instantaneamente ao espírito.
·      No decorrer do itinerário – torna-se bem mais fácil, a partir de um elemento do terreno visto mas não antecipado no mapa pelo orientista, saber como ele pode estar representado e de o situar no mapa. Constitui uma preciosa ajuda para o orientista se relocalizar no terreno.


CARTOGRAFAR MENTALMENTE

Torna-se necessário, portanto, antecipar o terreno a partir da leitura do mapa e observar o terreno para se situar no mapa.

É precisamente com o objectivo de se saber fazer bem esta relação “à posteriori” que a cartografia mental tem todo o sentido.

A partir do terreno que atravessa, o orientista deve ser capaz de imaginar como será simbolizada a zona no mapa, antes mesmo de o ler.

À visão da floresta deve subpor-se quase instantaneamente a imagem mental do mapa correspondente.

Tal como o cartógrafo, o orientista deve saber como se representa cada detalhe do terreno, seja qual for a sua natureza. Uma vez mais, é a representação do relevo que será mais complexa, sobretudo nas zonas “desfiguradas”. Donde a importância das sessões (treinos técnicos) “mapa-promenade” evocadas no ponto anterior.

Esta nova actividade constitui uma excelente aprendizagem de observação do terreno. Para poder desenhar um mapa mental o mais completo possível, a atenção do atleta deve focar-se em todos os elementos. De seguida é preciso relacioná-los:
·      Que ângulo forma o carreiro que eu sigo com as curvas de nível ?
·      Como evolui a densidade da vegetação na encosta ?
·      O limite do pequeno bosque está no declive ?
·     

Graças a este estimulante exercício, o orientista adquire rapidamente uma visão “aguçada” do terreno.

Claro que é necessário uma progressão nesta aprendizagem para o orientista adquirir experiência e criar uma biblioteca de imagens mentais bem fornecida.

Este trabalho pode efectuar-se, quer o terreno esteja cartografado ou não, ou quer o orientista corra a pé ou de bicicleta ou mesmo que viaje de carro. Cada viagem pode dar oportunidade à construção destas imagens mentais. É pois um método igualmente constructivo para continuar a progredir tecnicamente quando se está lesionado.

Se o orientista ficar convencido do interesse desta forma de treino, torna-se necessário alterar os seus hábitos – durante os footings, os treinos em bicicleta ou os trajectos para as provas – e desenvolver com regularidade esta capacidade fundamental para dominar a orientação.

E, evidentemente, fazer também exercícios de simulação ou com mapa durante os treinos – observação do terreno e relação mapa-terreno “a posteriori”. Basta imaginar como determinada zona do terreno, natural e variada, será representada no mapa de Orientação, com o máximo de detalhes (vegetação, relevo, detalhes pontuais e lineares).

Com a experiência, é importante cartografar uma zona cada vez maior, observando o terreno ao longe através das árvores. Estes exercícios podem fazer-se a andar, no ritmo do simples footing ou numa sessão de VMA. Podem ser feitos em grupo para se poderem comparar os detalhes de cada atleta.

Boa sorte

REFERÊNCIAS:
·      Jean-Daniel Giroux, 2003.



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