quinta-feira, 19 de abril de 2012

A ESCOLHA DOS ITINERÁRIOS (II)



COMO ESCOLHER ENTRE VÁRIOS ITINERÁRIOS

Salvo raras excepções, a arte de traçar percursos consiste em propor ao orientista várias opções entre dois pontos de controlo.

A primeira tarefa do orientista, depois de ter definido o ponto de ataque (*) do próximo ponto de controlo, é escolher o itinerário que o conduzirá a esse ponto. Relembremos que este itinerário se constrói “às avessas”, partindo do ponto de controlo para onde queremos ir até à baliza onde ainda nos encontramos.

(*) – Ponto de Ataque = é geralmente um ponto de passagem (obrigatória) que o orientista fixa para o ajudar a descobrir a baliza sem perda de tempo. Deve ter as seguintes características: estar próximo da baliza; deve ser fácil de encontrar e o atleta deve poder correr rápido até ele; a partir deste ponto o orientista deve abrandar e a procura do ponto de controlo deve ser o mais segura possível.

Para optar entre vários itinerários possíveis, é necessário apoiar-se em dois critérios:
1.  A segurança percepcionada do itinerário. O orientista deve avaliar, em função do seu nível técnico e experiência, que probabilidades tem em realizar o itinerário, sem cometer erros, até ao ponto de ataque do próximo ponto de controlo – 100% de segurança, corresponde idealmente a um itinerário sem erros.
2.  A rapidez esperada para realizar o itinerário. Que tempo gastarei para descobrir o ponto de ataque ?  Torna-se pois necessário somar duas durações: a que vai do ponto onde estamos até ao ponto de ataque do próximo ponto de controlo, mais a distância do ponto de ataque até ao ponto de controlo para onde nos dirigimos.

Um bom traçado do percurso caracteriza-se por propor vários itinerários possíveis, sem que nenhum conjugue ao mesmo tempo a segurança e a rapidez máximas. A escolha do melhor itinerário ou do itinerário mais pertinente deve fazer-se tendo em conta estas duas percepções, sendo sempre estas, próprias a cada indivíduo. Para um mesmo indivíduo estas percepções podem modificar-se segundo o seu estado de fadiga, a sua concentração ou a sua facilidade particular em correr neste ou naquele tipo de terreno. Na parte final de uma prova, o orientista fatigado terá a tendência em optar por itinerários mais seguros, deixando alongar o seu trajecto. O tempo suplementar induzido por este alongamento do percurso é no entanto inferior às perdas de tempo resultantes de estados físicos ou mentais em stress.

Há pois todo o interesse para o orientista em progredir tecnicamente para, nomeadamente, poder optar por itinerários mais rápidos, mantendo o mesmo grau de segurança. Este grau de segurança depende em parte da leitura do mapa aquando da escolha do itinerário a seguir – em que elementos fiáveis do terreno, facilmente identificáveis pelo orientista, deverá ele apoiar-se ? – e da sua leitura do mapa em corrida, fazendo a relação com o terreno que vai desfilando aos seus olhos.

Escolher o melhor itinerário supõe que o orientista identificou todos os itinerários possíveis. Num bom traçado de percurso, raramente os melhores itinerários saltam aos olhos. Examinar o percurso nos dois sentidos – do ponto para onde queremos ir para o ponto onde estamos e vice versa – permite por vezes descobrir um novo trajecto (opção) possível.

Em caso de dúvida, é de privilegiar sempre o itinerário mais seguro, nomeadamente em relação ao itinerário até ao ponto de ataque.

É preciso relembrar também que, de uma maneira geral, em áreas de terrenos muito técnicos e íngremes, quanto mais difícil é a leitura do mapa tanto mais penoso é correr nessas zonas. Há também que avaliar a relação entre o “desnível economizado e a volta suplementar” para comparar a rapidez dos itinerários. Se essa relação for superior a 10 – por exº: 300 metros a mais para 30 metros de desnível a menos – o desvio (volta suplementar) não é rentável.

Enfim, nas provas longas um terceiro factor influencia a escolha do itinerário (fora a rapidez e a segurança). Trata-se de orientista saber gerir eficazmente o seu potencial físico – ele deve apoiar-se nas suas qualidades e nas suas fraquezas: corrida todo-o-terreno, corrida em encostas, corrida em caminhos, …



EM QUE MOMENTOS DO PERCURSO SE DEVEM FAZER AS ESCOLHAS DOS ITINERÁRIOS ?

A ESCOLHA DO ITINERÁRIO PODE FAZER-SE EM DOIS MOMENTOS DISTINTOS

1. Regra geral e de maneira preferencial, a escolha do itinerário faz-se – caso não seja possível antecipar – à saída do ponto de controlo. Nesta situação, o orientista deve fazer a escolha no ponto de controlo e não a 30 ou 50 metros ao lado (para não assinalar o local da baliza com a sua presença !!!). Nesta circunstância, afastar-se da baliza 50 metros sem qualquer controlo, uma vez que ainda não escolheu o itinerário, é, na maior parte das vezes, uma fonte de erro. O atleta deve permanecer na sua “bolha”, concentrado na sua orientação e não se deixar perturbar pelos outros concorrentes. Na realização de um itinerário, tanto o ataque à baliza como a saída do ponto constituem os dois momentos mais delicados. A direcção (azimute) tomada deve ser estimada, sempre que possível , com a maior precisão, tanto num como no outro caso.

2. A escolha do itinerário pode ainda fazer-se por antecipação ao longo de um percurso parcial simples, um ou vários pontos antes. Regra geral, o orientista deve focalizar-se nos futuros pontos de controlo mais difíceis. É claro que o atleta deve ter um ponto de referência bastante evidente do percurso que está a efectuar para retomar o contacto mapa-terreno, dado que o mais importante, é, seguramente, realizar correctamente o itinerário que ele está a fazer nesse instante.

A facilidade que o atleta vai ter ou não em antecipar vai depender de vários factores:
·      Do seu nível técnico e, nomeadamente, dos automatismos que já adquiriu no que diz respeito à gestão dos diferentes momentos do percurso.
·      Da dificuldade técnica do terreno e do traçado do percurso que poderá permitir a disponibilidade para uma tal antecipação, ou, ao contrário, exigir uma mobilização a 100% da concentração do atleta para o êxito do trajecto em curso. 


REFERÊNCIAS:
·      Jean-Daniel Giroux, 2003;
CONTINUA …



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