segunda-feira, 12 de março de 2012

A IMPORTÂNCIA DO DIÁRIO (CADERNO) DE TREINO DO ATLETA


 Introdução

Perguntas realizadas por jovens orientistas franceses a Thierry Gueorgiou (“Tero”):

P1: “Nos teus tempos de Junior, como eram os teus treinos – número e tipo de treinos – tanto no plano físico como no técnico ?
R1: “Para responder à tua pergunta, o mais simples é sem dúvida recorrer ao meu Diário de Treino (“Cahier d´Entrainement”) desse período … Vejamos … a primeira semana de Dezembro… do ano de 1998 … do JWOC em França … :
                Segunda – footing, 45 mn
                Terça – simulação bi-mapa, 90 mn
                Quarta – Partida como primeiro estafeta, 135 mn
                Quinta – simulação bi-mapa, 90 mn
                Sexta – footing, 60 mn
                Sábado – Manhã: bicicleta 60 mn./ Tarde: “One man relay 105 mn
                Domingo – “One man relay 120 mn
Ou seja, nesta semana 49, um total de 11h45, com 6h00 de Orientação e 3h00 de simulação.

Na semana 27 – início de Julho, duas semanas antes do JWOC – foi assim:
                Segunda – Repouso
                Terça – Orientação rápida, 90 mn
                Quarta – bicicleta, 60 mn
                Quinta – footing, 30 mn
                Sexta – footing, 30 mn
Sábado – Intensidade sob forma de pirâmide com metade do tempo de recuperação: 1’/2´/3´/4´/5´/4´/3´/2´/1´/2´/3´/4´/5´ (80 mn)
                Domingo – bicicleta, 40 mn

Ou seja, um total de 5h30, das quais 1h30 de Orientação.”


P2: “Quanto tempo treinavas quando eras “Cadete” (M13 …) – número de treinos por semana, tipo de treinos … ?
R2: “Treinava com o Clube de Saint Etienne, o NOSE. Em média treinava 5 vezes por semana. As Terças e as Quintas eram consagradas ao treino de simulação ... Às Quartas ia com o meu pai para as sessões na floresta de UNSS ... Aos Sábados, era o treino de floresta do clube e tentava agarrar-me às estrelas do clube: Gilles e Eric Perrin, Olivier Coupat, Sylvain Mougin, Pierrot Linossier, Thibaut Lagorce, Laurent Couliard ou ainda ao meu irmão Rémi.


Quantos orientistas de competição portugueses poderiam neste momento dizer que tipo de treino fizeram, quantos quilómetros correram, quantas balizas picaram, apenas na época passada ?

Da nossa experiência, para a grande maioria: nada escrito … apenas pequenas lembranças … e tudo o vento levou … desculpem se nos enganamos …

E interrogamo-nos: Porque é que os orientistas portugueses, mesmo os das selecções jovens, não têm a tradição, ainda não conseguiram interiorizar (corticalizar) a necessidade do DT ?
      Será por preguiça ?
      Ainda ninguém lhes fez ver a sua importância ?
      Será por dificuldade em escrever ?
      Será por falta de exemplos a seguir ?


No entanto, os grandes atletas mundiais, como o “Tero” (Thierry Geourgiou), desde os primeiros passos na modalidade que utilizam o Diário de Treino (onde tudo registam) como auxiliar de treino e da sua evolução como atletas de competição …

De facto, ele representa o “diário de bordo” do desportista, contendo registos preciosos e úteis quer para o atleta quer para o seu treinador quer para o médico ...

Ocupa um lugar muito importante na planificação do treino, pois permite a reprodução dos pontos positivos, e evita a reprodução dos erros cometidos ...

E é ao mesmo tempo um “diário íntimo”, onde o atleta regista as suas impressões, os seus sentimentos, os seus humores de desportista …


O Diário de Treino (DT)

O controlo/gestão eficaz do DT é um elemento incontornável da preparação do atleta com vista à consecução dos objectivos traçados. Os registos das informações importantes e pertinentes devem ser: quotidianos, semanais e mensais. À semelhança do que faz Tero, o atleta deve fazer o registo diário do treino e o resumo semanal e mensal dos treinos e competições, sintetizando e salientando os aspectos mais importantes.

Não existe um CT tipo, igual para todos. Cada orientista deverá construí-lo em função dos seus desejos, sensibilidades e da sua vontade. O DT, porque representa o diário íntimo do desportista, deve ser individualizado. O atleta deve sentir-se à vontade na sua utilização.

Para ser realmente eficaz, o seu preenchimento deve ser diário. Numerosos atletas consideram-no como uma chatice, utilizando-o quando calha – o que o torna ineficaz, constituindo mais uma perda de tempo do que uma verdadeira utilidade para o controlo do treino.

O interesse do DT é o de recolher o máximo de dados que sirvam ao atleta e ao seu treinador na planificação e programação dos treinos e da época ou a reorientação dos objectivos – não só para os atletas de alta competição …

Permite anotar as informações relativas ao treino: distância percorrida, duração do treino, número de balizas “picadas”, número de exercícios realizados, frequência cardíaca, as sensações sobre o treino, …

Todas estas informações, uma vez centralizadas, poderão ser analisadas a fim de avaliar, por um lado, a qualidade dos treinos (ver se o atleta progride ou não) e, por outro lado, o estado de forma e saúde do atleta.

Desempenha também um papel importante na motivação do desportista – é sempre super importante de se ver progredir. E ainda, dá o traço visual duma falta de treino em determinado período o que, geralmente, desperta a motivação para retomar a actividade seriamente.

O conteúdo do DT deve ser simples, mas tudo deve ser mencionado de forma organizada. Fazer os registos diários num DT organizado e individual, exige pouco esforço e não mais do que alguns minutos.
  

Quantificar da carga externa:

Descrever e quantificar a grandeza dos esforços realizados pelo atleta de maneira objectiva.
·      O volume do treino: duração, número de repetições, …
·      A frequência do treino
·   A sua intensidade, expressa em % da velocidade ou Potência Máxima Aeróbica (PMA), % da Frequência Cardíaca Máxima, em Km/h, …


Avaliação dos efeitos das cargas de treino:

A carga interna representa as diferentes reacções fisiológicas do organismo provocadas pela carga externa do treino. Estes efeitos podem ser apreciados por dados subjectivos e objectivos:
·   Os dados subjectivos (a questionários, escalas de valor, …): permitem detectar as modificações de humor, motivação, moral, irritabilidade, sono, …
·      Os dados objectivos – medições como: frequência cardíaca, peso, pressão arterial, etc.

Qualquer mudança, brusca e/ou durável, do humor, motivação, qualidade do sono, frequência cardíaca … deve ser motivo de alerta – pode ser sinal de uma fadiga excessiva …


Comentar os testes e as competições

O DT permite igualmente ter o registo dos testes físicos e das competições, com as seguintes anotações:
·      O resultado: classificação, tempos intermédios, velocidade, …
·      As condições meteorológicas: vento, humidade, temperatura, …
·      Material utilizado: sapatos, bússola, cardio-frequencímetro, GPS, …
·      Os comentários sobre as sensações, a táctica empregue, …
·      Análise técnica do percurso: os erros cometidos, comparação com o traçado do GPS, …
·      Todas as informações pessoais que pareçam pertinentes … “tive prazer nesta prova ? … “ etc.
·      Etc.

Continua …


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