Em Orientação o atleta está mais tempo sozinho do que acompanhado pelo treinador e é o único que sabe exactamente o que fez dentro da floresta.
A par da análise dos itinerários e treinos pela utilização do Quick Route/ GPS e do traçado dos percursos à mão pelo atleta, a autoavaliação dos comportamentos do orientista constitui uma ferramenta muito importante para se poder compreender o funcionamento e os pontos fortes e fracos do atleta, no que diz respeito às técnicas de orientação, estado físico e estado de espírito durante uma competição.
A análise e o cruzamento dos diferentes dados – GPS, Traçado do percurso pelo atleta e respostas aos questionários – pode (e deve) ajudar o treinador na preparação dos treinos seguintes (“que devo eu privilegiar para fazer progredir os meus atletas, tendo em conta os erros observados nos seus percursos ? ”) e planificar a fase ou época seguinte ...
UTILIZAÇÃO DO QUICK ROUTE (GPS)
A utilização do Quick Route (GPS) – desenvolvido pelos orientistas suecos Mats Troeng e Jorgen Ohlin – na análise dos itinerários em Orientação, constitui uma verdadeira revolução pela simplicidade da análise dos percursos e treinos e riqueza dos dados fornecidos.
O traçado aparece em diferentes cores – vermelho, amarelo, verde escuro – segundo o ritmo (em min/Km) do atleta: com o verde para as fases rápidas, o amarelo para as menos rápidas e para os abrandamentos e o vermelho para as mais lentas. É possível estudar o tempo perdido em certas porções do percurso – aproximação ao ponto de controlo, erros, … – observando o tempo antes e depois do erro.
O treinador tem uma retrospectiva do comportamento efectivo do atleta no terreno: distância percorrida, velocidade de deslocamento, erros, escolha de itinerários, …
Os orientistas têm a possibilidade de ver os seus erros e/ou as suas opções a posteriori. E, assim, ser possível melhor identificarem e compreenderem as razões dos erros de itinerário e/ou perdas de tempo.
Pode-se pedir ao atleta para traçar à mão o seu itinerário (memória-câmara) e depois compará-lo com o registo dado pelo GPS.
Além do traçado do percurso realizado pelo orientista, a possibilidade de observar as velocidades de deslocamento vão permitir analisar as diferentes etapas na escolha dos itinerários, as tomadas de decisão ( e de risco ...) e assim explicar os erros cometidos. Leitura do mapa, pontos de ataque, pontos de decisão, pontos de apoio, saída dos pontos de controlo, … as paragens ou os abrandamentos marcados podem ser explicados, ou ao contrário, uma velocidade muito elevada a um ponto.
Treinador e orientista podem assim analisar, explicar e compreender o verdadeiro equilíbrio existente entre o domínio das técnicas de orientação e a velocidade de corrida: a que velocidade é capaz o atleta de ler, escolher, decidir … para não cometer erros ? ou o que deverá fazer o atleta nos próximos treinos para evitar os erros ou perdas de tempo ?
É igualmente possível verificar os aspectos positivos nas escolhas efectuadas pelos atletas.
A análise dos diferentes registos do grupo de atletas pode (e deve) ajudar o treinador na preparação dos treinos seguintes, mantendo a "unidade didáctica" dos treinos: “que devo eu privilegiar para fazer progredir os meus atletas, tendo em conta os erros observados nos seus percursos ? ”
O recurso ao Quick Route/GPS tem ainda vantagem e aplicação em diversos tipos de exercícios-percurso de orientação: “corredor”, “janelas”, “orientação em cima da linha”, … permitindo verificar, graças ao registo do traçado, se o(s) atleta(s) realizou o percurso no corredor definido.
A sua utilização pode ainda servir para certas situações sem ser necessário a colocação das balizas no terreno: o atleta sai com os pontos de controlo marcados no mapa e deve ir visitar os locais onde pensa que deveriam estar as balizas. A verificação é feita à posteriori, sobrepondo o traçado do percurso efectuado pelo atleta com o mapa: o atleta agiu com precisão ? foi a todos os pontos de controlo ?
O perfeito conhecimento e domínio deste recurso informático, em constante aperfeiçoamento, constitui neste momento uma competência básica de qualquer treinador que se preze e queira fazer evoluir as performances dos seus atletas.
O perfeito conhecimento e domínio deste recurso informático, em constante aperfeiçoamento, constitui neste momento uma competência básica de qualquer treinador que se preze e queira fazer evoluir as performances dos seus atletas.
AUTO-AVALIAÇÃO
Damos a seguir um exemplo de um questionário de auto avaliação, bem como do tratamento geral das respostas dadas por um grupo de 15 orientistas questionados:
AUTO-AVALIAÇÃO
atletas jovens e com pouca experiência
Nº de respostas = 15 (*)
Nº de respostas = 15 (*)
Este questionário tem como objectivo conhecer alguns comportamentos e conhecimentos dos atletas mais jovens e com menos experiência numa prova de Orientação.
Lê com muita atenção as questões e responde a todas elas, mesmo que não tenhas bem a certeza.
Coloca uma cruz numa das três colunas que achares melhor.
A tua resposta honesta e individual é importante. Não peças ajuda a ninguém, faz de conta que estás numa prova de Orientação e tens que desenrascar-te sozinho(a) …
Nome:______________________ Clube:_________________Escalão:________Idade:_____; _____ |
QUESTÕES | SIM | NÃO | ± |
Conheço os símbolos do mapa e do cartão de sinalética | |||
Já faço uma prova de Orientação a correr, mesmo para ler o mapa | |||
Sei fazer a relação mapa-terreno e antecipo o que vou encontrar pela frente, e adapto o meu ritmo de corrida às características do terreno | |||
Para ganhar tempo, já me arrisco a fazer atalhos pelo meio da floresta, fora dos caminhos, conseguindo ler bem o relevo | |||
Sou capaz de memorizar um pequeno trajecto, tomando como referência pequenos detalhes do envolvimento – um cruzamento, uma árvore especial, uma colina, etc. | |||
O meu ritmo de corrida durante uma competição, permite-me estar lúcido para pensar no que estou a fazer | |||
Quando quero ler o mapa para tirar pontos de referência, reduzo o meu ritmo de corrida e tento não parar de correr | |||
Já sei trabalhar com a minha bússola de dedo em corrida – tanto na orientação do mapa como para tirar e seguir uma direcção (azimute) | |||
Sei orientar o mapa pelo terreno em corrida | |||
Quando decido qual o itinerário que quero seguir, escolho um PONTO DE ATAQUE e, para o caso de me enganar, uma LINHA DE PARAGEM | |||
Para ir controlando por onde vou, selecciono e memorizo alguns PONTOS DE APOIO, para ter a certeza que estou a ir bem | |||
No final das provas, analiso o que fiz bem e o que fiz mal, com o meu treinador e com os meus amigos | |||
Nos mapas que me parecem mais difíceis, ainda tenho algum receio de arriscar e decido ir pelos itinerários que me parecem mais seguros | |||
Respeito o ESPÍRITO DA ORIENTAÇÃO – em relação aos outros, ao regulamento das provas e à protecção da natureza | |||
Conheço as REGRAS DE SEGURANÇA – para o caso de eu me perder ou de alguém ter um acidente | |||
Quando tenho uma prova no Sábado, preparo todo o meu equipamento desportivo na sexta-feira à noite para não me esquecer de nada | |||
Nos 30 minutos antes do sinal de partida para uma prova, faço um aquecimento – para ir calmo, concentrar-me e preparar os músculos para a corrida | |||
Estou disponível para ajudar o meu treinador e os meus colegas nos treinos, quando eles me solicitam | |||
Nos treinos, estou muito atento e respeito as regras do treinador para executar bem os exercícios – porque quando eu já estiver dentro da floresta ele não está lá para me corrigir … | |||
Sinto-me bem no meu clube, com os meus colegas, treinadores e dirigentes |
(*) - ESTÁGIO DO C.O.C. – 19 e 20 de Novembro de 2011.
Conclusões gerais:
· 87% (13) dos atletas não conhecem ou conhecem mal os símbolos internacionais do mapa e do cartão de sinalética;
· Apenas 33% (5) já conseguem fazer as provas de Orientação quase sempre a correr e a ler o mapa;
· 73% (11) têm dificuldades fazer a antecipação do que vão encontrar pela frente através da leitura do mapa;
· 40% (6) lêem com alguma facilidade o relevo e arriscam fazer atalhos e navegar pela floresta, fora dos caminhos, para ganhar tempo;
· 73% (11) sentem que já são capazes de memorizar pequenos trajectos, tomando como referência pontos característicos do meio ambiente;
· 53% (8) já adquiriram um ritmo de corrida durante todo o percurso que lhes permita a lucidez necessária para pensarem no que estão a fazer;
· 73% (11) reduzem a passada, sem pararem de correr, quando querem ler o mapa e tirar pontos de referência;
· 60% (9) ainda têm dificuldades em manusear a bússola em corrida para tirar e/ou seguir um azimute;
· 60% (9) já se sentem à vontade a orientar o mapa pelo terreno, em corrida;
· 73% (11) não sabem ou têm dificuldade em seleccionar Pontos de Ataque e Linhas de Paragem, como técnica básica de aproximação aos pontos de controlo;
· 53% (8) têm alguma dificuldade em seleccionar Pontos de Apoio, para controlar e gerir o itinerário seleccionado;
· Apenas 40% (6) têm o hábito de fazer a análise técnica do percurso realizado no final das provas, com o treinador e/ou com os amigos;
· 60% (9) ainda têm algum receio em arriscar nos mapas/terrenos que lhes parecem ser mais difíceis, optando por seguir pelos itinerários que lhes dão mais segurança;
· 73% (11) respeitam o “Espírito da Orientação”, no que diz respeito aos outros praticantes, aos regulamentos das provas e à protecção da natureza. Os outros 27% (4) respeitam-no mais ou menos;
· Apenas 33% (5) conhecem as “Regras de Segurança”, no que diz respeito aos procedimentos a seguir em caso de se perderem ou depararem com alguém que teve um acidente;
· 80% (12) preocupam-se em arrumar o seu equipamento desportivo na véspera das provas, para não se esquecerem de nada. Os outros 20% (3) às vezes esquecem-se;
· 53% (8) fazem o aquecimento nos 30 minutos que antecedem o sinal de partida para a prova – para irem mais calmos, mais concentrados e com os músculos quentes. Os restantes 47% (7), às vezes não fazem o aquecimento;
· 87% (13) estão sempre disponíveis, durante os treinos, para ajudar o treinador e os colegas quando são solicitados;
· 60% (9) dizem estar muito atentos à explicação do treinador e respeitar as regras a seguir, para saberem o que fazer dentro da floresta, quando estão sozinhos sem a presença do treinador. Os restantes 40% (6), às vezes distraem-se;
· 100% (15) sentem-se bem no seu clube, com os colegas, treinadores e dirigentes.
Em síntese:
Situações onde apresentam mais facilidade
· Memorização de pequenos trajectos
· Respeito pelo Espírito de Orientação
· Arrumação do equipamento na véspera da prova
· Disponibilidade em ajudar o treinador e os colegas nos treinos
Situações onde apresentam alguma facilidade
· Adopção de um ritmo de corrida que permita pensar no que se está a fazer
· Realização do aquecimento antes das provas
· Leitura e orientação do mapa pelo terreno em corrida
· Atenção às explicações do treinador nos treinos
Situações onde apresentam algumas dificuldades
· Manuseamento da bússola em corrida – tirar e seguir azimutes
· Selecção de Pontos de Apoio
· Arriscar na escolha dos itinerários, fazendo atalhos e navegando pelo relevo
Situações onde apresentam mais dificuldades
· Simbologia do mapa e sinalética dos pontos de controlo
· Leitura do mapa em corrida durante toda a prova
· Antecipação daquilo o que vão encontrar
· Navegação pelo relevo
· Seleccionar Pontos de Ataque e Linhas de Paragem
· Análise técnica dos percursos realizados no final das provas
· Desconhecimento das Regras de Segurança das actividades de ar livre
Hélder e Emanuel
Sem comentários:
Enviar um comentário