EXIGÊNCIAS TÉCNICO-PEDAGÓGICAS
Pelas suas características específicas, um treino de Orientação não se improvisa …
De facto, mais do que em outras modalidades desportivas, os treinos de Orientação exigem do professor/treinador tempo e rigor, tanto na sua preparação, como na sua organização, gestão e colocação/arrumação do material. Exigem uma atenção, uma precisão, uma segurança e uma organização muito mais rigorosas do que as outras actividades físicas.
É indispensável propor situações que correspondam o mais possível às necessidades e competências dos alunos – uma vez que eles partam para a execução das tarefas, é praticamente impossível ao professor modificar o exercício, de modo a torná-lo menos complexo, dado que deixa de ter contacto com o atleta e não tem, pois, conhecimento das suas dificuldades em realizar o exercício.
Os alunos devem poder sentir-se em segurança na floresta – e tanto mais quanto mais novos forem.
Na Concepção
· Fixar objectivos em sintonia com os objectivos do treino – o que é que os alunos deverão aprender ou aperfeiçoar em cada sessão?
· Constituir os grupos de trabalho;
· Planificar e adaptar os percursos/exercícios/jogos aos diferentes “grupos de nível” – grau de compreensão e prática dos alunos – e reproduzi-los em fichas, em mapas, …;
· Fazer a lista do material técnico e didáctico necessário;
· Elaborar as fichas de registo de observação, resultados e/ou avaliação da actividade;
· Determinar as tarefas/intervenções do professor durante a aula;
· Planificar a gestão e o tempo de cada exercício;
· Se houver necessidade, prever de maneira exaustiva as diferentes instruções e recomendações de organização e/ou de segurança a dar a todos alunos.
Na Preparação
· Verificar atempadamente o estado de manutenção das balizas, dos postos de controlo do percurso permanente e do estado de arrumação e manutenção do material didáctico;
· Colocar as balizas e as fitas balizadoras, se possível, pouco tempo antes do início da sessão iniciar a fim de limitar os riscos de vandalismo. Este procedimento evitará que a segurança dos alunos seja posta em causa devido a um eventual desaparecimento das balizas ou outros materiais de referência;
· Detectar e sinalizar eventuais áreas sensíveis/frágeis do ponto de vista biológico e organizar a segurança – perfeito conhecimento do terreno, delimitando a zona onde vai decorrer a sessão, identificando e balizando os eventuais “perigos”;
· Informar a direcção do clube do local exacto do treino;
· Levar uma caixa de primeiros socorros e um telemóvel (com os números dos bombeiros e das urgências gravados);
· Preparar os materiais a transportar – balizas, mapas com os percursos traçados, cartões de controlo, “soluções” dos percursos, relógio de partidas, bússolas, canetas, fichas de registo de tempos, observação ou avaliação, etc.
Condução do treino
Preparando antecipadamente e com rigor a sessão, o treinador estará em condições de preocupar-se menos com a sua organização e a segurança dos orientistas e focar mais a sua intervenção no grupo, durante o mesmo. Estará mais disponível para ensinar, intervir e enquadrar os alunos, reagindo com calma às suas necessidades e prestando mais atenção aos alunos com mais dificuldades:
· Estimulando as iniciativas individuais. No entanto, as tarefas devem ser executadas a pares/trios ou em grupo, enquanto os alunos não estiverem preparados psicológica e emocionalmente para o trabalho individual dentro da floresta – é muito importante o professor estar atento a esta situação, mesmo nos exercícios em espaços conhecidos do aorintista. A Orientação, mesmo em espaços familiares e pouco complexos e conhecidos dos alunos, é uma actividade muito exigente ao nível da autonomia, auto-estima e auto-confiança;
· Informando de forma clara e completa;
· Favorecendo a actividade lúdica – principalmente com os orientistas mais novos;
· Utilizando percursos que funcionem nos dois sentidos, com 1, 2, 3 ou 4 ou mais pontos de controlo – maior número de atletas a praticar simultaneamente, mais tempo na tarefa, mais situações pedagógicas vividas, enfim, mais aprendizagem;
· Propondo exercícios curtos – é melhor três ou quatro exercícios de 200 a 500 metros do que um só percurso de 1,5 Km. Os exercícios curtos permitem a intervenção atempada do treinador, evitando que o aluno persista no erro. Além disso, podem facilmente ser repetidos;
· Reduzindo os tempos de espera entre as tarefas – valorização do tempo de prática/tempo na tarefa;
· Abordando um só tema por sessão;
· Permitindo aos alunos descobrir um grande número de pontos – favorece a motivação e o êxito;
· “Tendo na manga” exercícios suplementares quer para os orientistas que progridem mais rapidamente quer para aqueles que progridem com menos facilidade que o previsto;
· Privilegiando uma boa leitura do mapa;
· Propondo tarefas que ajudem ao desenvolvimento das capacidades de observação e de planificação do itinerário (projecto de deslocamento) e tomadas de decisão;
· Retardando a utilização da bússola – o seu uso no início do processo ensino/aprendizagem pode ser prejudicial;
· Evitando, tarefas com dificuldade excessiva (sensação de fracasso, bloqueios), comparação imediata entre os alunos (medo do ridículo), emoções demasiado intensas (medo do desconhecido, pouca aptidão para a autonomia ou competição);
· Colocando com frequência os alunos em tarefas de organização e gestão dos seus exercícios: cronometrar, controlar, colocar e levantar balizas, copiar e fazer a auto-correcção dos percursos, etc.
Como em todas as actividades da escola, o objectivo central do ensino da Orientação é tornar as pessoas autónomas, empenhadas e responsáveis.
Ambiente de calma, sem pressão e êxito:
· É fundamental que nos primeiros treinos a aquisição das técnicas básicas se realizem em condições em que o professor possa ver o desempenho dos alunos. É também importante que cada aluno tenha feed-backs (reacção do treinador à prestação do atleta) imediatos após a conclusão das tarefas: dados pessoalmente pelo professor (conversando ou acompanhando o aluno na repetição da tarefa); ou dado pelas chaves/soluções dos exercícios/percursos que serão afixados;
· É importante que quem aprende aja correctamente desde o início. Aqui o feed-back pedagógico é fundamental: tanto na instrução como no desenrolar da repetição do exercício;
· Para tal, o aluno deve poder concentrar-se com calma nas novas aquisições e tarefas, realizando as primeiras tentativas sem estar pressionado pelo tempo;
· Os exercícios não devem ser muito difíceis. O professor deve proporcionar aos alunos situações que eles sejam capazes de resolver com alguma facilidade, e sobretudo com êxito.
Depois do treino
No final da sessão o treinador deverá avaliar se os objectivos fixados foram ou não atingidos. Isto consegue-se recorrendo, às observações sistemáticas do comportamento dos alunos, à discussão com eles, à realização de pequenos testes ou trocando mais tarde impressões e experiências com os outros colegas treinadores.
Deverá também proceder à recolha e devida arrumação do material técnico e pedagógico utilizado, para ficar pronto a ser utilizado pelos outros treinadores.
REGRAS PEDAGÓGICAS BÁSICAS NO ENSINO DA ORIENTAÇÃO:
É necessário adoptar um modelo pedagógico onde o principiante se encontre em situação de:
· Deslocar-se individualmente e em corrida, sempre que possível;
· Situações-problema que permitam organizar-se, escolher, tomar decisões;
· Tomar responsabilidades – empenhar-se quer na realização quer na organização dos exercícios;
· Assumir a responsabilidade dos seus êxitos e dos erros/fracassos;
· Exercícios em progressão – permitindo a escolha da situação adaptada ao nível de prática dos alunos;
· Multiplicação do número de balizas e percursos – factores determinantes da aprendizagem;
· Situações que solicitem a memorização – prática que favorece o progresso e fixa as aprendizagens;
· Formulação do projecto de deslocamento/itinerário (contar a sua história) – a eficácia pedagógica e o êxito do aluno estão estreitamente ligados a esta formulação;
· Situações lúdicas;
· Disponibilidade do treinador para ajudar o aluno nas suas dificuldades – o que só se consegue com a preparação minuciosa das sessões de aprendizagem;
· Precisão das instruções pedagógicas, das regras de segurança e conduta a seguir em caso de problemas.
QUALIDADES EXIGIDAS AO TREINADOR (EDUCADOR)
· Ter alguma experiência da modalidade;
· Capacidade de apresentar o assunto/tema/conteúdo claramente e de maneira concisa;
· Ser paciente e ao mesmo tempo firme;
· Ser capaz de explicar a matéria de maneira simples e interessante;
· Ser capaz de organizar da melhor maneira os alunos;
· Poder pôr-se ao nível dos alunos do ponto de vista dos seus conhecimentos e da sua maturidade;
· Saber tratar os alunos da mesma maneira. É muito fácil favorecer os que trabalham bem e os que colocam questões pertinentes …
· Saber utilizar eficazmente a sua voz. Falar claramente e suficientemente alto e forte, fazendo face aos alunos;
· Ter o contacto com os alunos. Ouvi-los, respeitá-los e tentar ver o problema do seu ponto de vista;
· Ser entusiasta e estar de bom humor. O bom humor do professor comunica-se aos alunos e cria vontade de aprender;
· Ser capaz de utilizar o material áudio visual e informático;
· Gostar de ensinar. Os alunos devem ter prazer de estar com o educador.
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