A bússola não é indispensável para a prática da Orientação, nomeadamente na fase de iniciação – tem mesmo a tendência em fazer distrair os principiantes da leitura do mapa e do terreno. Nesta fase o aspirante a orientista desportivo deve, fundamentalmente, orientar-se pela leitura do mapa e do terreno, isto é, fazer a relação permanente mapa-terreno e terreno-mapa.
Servindo essencialmente a bússola para nos deslocarmos a direito – para seguirmos a direcção ideal dada pela linha recta – a sua utilização precoce iria levar o iniciado a centrar nela a sua atenção – “ir com o nariz na seta vermelha” – desprezando assim a observação das características do meio em que se desloca e a sua relação com o mapa, sendo incapaz, na maioria dos casos, de determinar a sua posição exacta quer no mapa quer no terreno.
A utilização da bússola deve ser retardada – o seu uso no início do processo ensino/aprendizagem é mais prejudicial do que benéfica.
De facto, numa fase de iniciação é de todo prioritário e essencial que o orientista aprenda a ler o mapa e o terreno e faça a relação entre ambos – deve adquirir uma perfeita compreensão das indicações fornecidas pelo mapa, e isto em relação permanente com a observação do terreno/envolvimento.
O iniciado que faz com exactidão a relação mapa-terreno e terreno-mapa, pode, na maioria dos casos, passar sem a bússola para se deslocar de um ponto para outro dentro da floresta.
Nesta perspectiva, na iniciação à Orientação, a utilização da bússola, não sendo de todo indispensável, surge numa 2ª etapa – quando o orientista já sabe orientar-se sozinho pelo terreno.
Mais tarde, na fase de aperfeiçoamento e na fase de performance (orientista confirmado), o orientista alterna a leitura do mapa com a utilização da bússola durante uma prova, quer para orientar rapidamente o mapa quer fazer visadas e seguir azimutes.
Descrição da “Bússola de Orientação” de iniciação
A bússola de Orientação é feita em plástico transparente para que possamos ler o mapa quando a colocamos em cima dele.
A Placa de suporte
Esta placa transparente é plana e tem gravada uma “seta de direcção”, que indica a direcção que queremos seguir, a do ponto a atingir.
Está munida de uma régua graduada em centímetros e milímetros, que permite calcular as distâncias a percorrer – mede-se no mapa a distância entre dois postos de controlo, para, a seguir, a converter numa distância em metros no terreno, tendo em conta a escala do mapa. Algumas bússolas estão já equipadas com réguas nos bordos transversais da placa, que fazem directamente a conversão dos centímetros em metros para certas escalas (1/15.000 ou 1/25.000).
A placa de suporte pode também estar equipada com uma lupa (que facilita a leitura do mapa) e com dois “moldes”: um triangular (ponto de partida) e outro circular (posto de controlo), que permitem marcar manualmente no mapa os elementos de um percurso de Orientação.
O Quadrante Rotativo
Possui um quadrante rotativo graduado ou “caixa circular móvel”, montado na placa e encerra dentro de si a agulha magnética e o líquido. É esta característica de poder rodar que desempenha um papel importante na medição dos ângulos (Azimutes), permitindo “memorizar” mecanicamente direcções.
A caixa móvel é, assim, o referencial que indica o ângulo de deslocamento (o “Azimute”) em relação a uma referência permanente, o Norte. O objectivo fundamental do azimute é o de permitir ao orientista deslocar-se em linha recta para o alvo (ponto) a atingir.
O Quadrante Rotativo é constituído por vários elementos:
· O quadrante propriamente dito, que possui nos seus bordos um “limbo graduado” de 2 em 2 graus. A sua escala vai dos 0 aos 360º, descrevendo uma circunferência, e alguns valores estão assinalados com os pontos cardeais: Norte (360º/0º), Sul (180º), Este (90º)e Oeste (270º).
· Uma “seta de alinhamento com o Norte” - também chamada “a casa do Norte” – que aponta o grau 0, que corresponde ao Norte. Em vez de uma seta, a “casa do Norte” pode também ser materializada por duas pequenas e grossas linhas brancas paralelas.
É somente quando “o Norte está em casa” – isto é, quando o Norte da agulha magnética coincide com a seta de alinhamento com o Norte - que podemos ler o ângulo de deslocamento. Este ângulo chama-se “Azimute” – a sua medição exprime-se em graus e faz-se sempre no sentido dos ponteiros do relógio. O azimute é, pois, o ângulo formado pela direcção a seguir - ângulo do deslocamento - e a direcção do Norte. A direcção a seguir é-nos dada pela “seta de direcção” gravada na placa de suporte da bússola.
Assim, a direcção e o sentido de qualquer posto de controlo podem ser indicados pelo rumo da bússola - pontos cardeais, colaterais e subcolaterais - ou pelo seu azimute, medido em graus, em relação aos 0º (Norte).
· Uma rede de “linhas de alinhamento com o Norte”, paralelas à “casa do Norte” - que serão úteis nas técnicas de manipulação da bússola com o mapa, quando colocadas paralelamente aos meridianos deste.
· A agulha magnética - A extremidade colorida desta agulha, em geral vermelha e branca, roda, mas estabiliza e aponta sempre na mesma direcção: o Norte. A vermelha aponta o Norte e a branca o Sul.
É esta agulha que constitui a bússola propriamente dita.
Está equilibrada sobre um eixo e flutua num líquido que lhe permite estabilizar rapidamente. A qualidade de uma bússola avalia-se pela rapidez desta estabilização – quanto mais rápida for, melhor é a bússola.
Atenção: os objectos metálicos desviam esta agulha …
Manipulação da “Bússola de Orientação” de iniciação:
Numa primeira utilização, a bússola permite orientar o mapa em relação ao terreno, fazendo coincidir a parte Norte da agulha magnética – ponta vermelha – com os meridianos do mapa.
Todavia, a sua principal função é o de permitir unir dois pontos graças ao azimute.
A manipulação de uma bússola exige alguns cuidados:
· Devemos colocar a bússola sempre na horizontal: para determinarmos com precisão a direcção do azimute a seguir ou quando a consultamos.
· Devemos escolher e visar com precisão uma referência do terreno - que se localize na direcção a seguir e que se encontre o mais longe possível - e caminharmos até lá sem olhar para a bússola. Chegando a esta referência devemos repetir sucessivamente a operação até alcançarmos o nosso destino - técnica das “visadas ou miras sucessivas”.
· Não devemos confundir a “seta de alinhamento com o Norte” gravada na caixa móvel (“casa do Norte”) com a “seta de direcção” gravada na placa de suporte transparente. É esta última seta que nos indica a direcção a seguir.
· Em terreno complexo, muitas vezes é conveniente fazermos a estimativa da distância a percorrer até ao objectivo, utilizando a técnica do “duplo passo”, para evitar passar na proximidade do ponto sem o ver (Aferição do passo).
· Devemos ainda evitar utilizar a bússola em locais onde existam pontos de atracção magnética – os postos de alta tensão, a presença de uma mina ou um objecto metálico que carreguemos num bolso, podem alterar a direcção da agulha da bússola - utilizá-la horizontalmente, com o braço estendido para a frente, à altura do peito e perpendicular a este.
Orientar rapidamente o mapa pela bússola:
· Orientar o mapa pela bússola, é colocar em paralelo e no sentido do Norte, os meridianos do mapa (que representam o N) e a agulha magnética vermelha da bússola. Para isso, sempre com a bússola na horizontal junto ao umbigo, devemos alinhar a agulha magnética com os meridianos do mapa, rodando o mapa – “fazer coincidir os dois Nortes” (o Norte do mapa e o Norte magnético).
· Em caso de dúvidas, a bússola é a melhor ferramenta para nos assegurarmos que o mapa está bem orientado em relação ao terreno.
Técnica de orientação do mapa pela bússola:
· Preparar a bússola – rodar a caixa móvel até que a ponta da seta da “casa do Norte” fique alinhada com a base (fixa) da “seta de direcção”, ambas a apontar no mesmo sentido.
· Colocar a bússola em cima do mapa – de modo a que um dos seus bordos longitudinais coincida com os meridianos do mapa e que a “seta de direcção” fique com a ponta dirigida para o Norte do mapa.
· Orientar o mapa – mantendo o conjunto mapa-bússola nessa posição, rodar todo o corpo até que a ponta vermelha da agulha magnética entre na “casa do Norte” – isto é, “fazer entrar o Norte em casa”.
Metodologia para calcular a direcção de um azimute dado - técnica “1 -2 – 3”:
1. Rodar a caixa móvel até colocar o valor do azimute face à parte inferior da seta de direcção - “linha de leitura”. Segurar a bússola horizontalmente à frente e perpendicular e à altura ao peito, com a seta de direcção a apontar para a frente.
2. Mantendo a bússola nesta posição, rodar o corpo até que a ponta vermelha da agulha magnética fique coincidente com a seta que está gravada na “caixa móvel” – “fazer entrar o Norte em casa”.
3. Com “o Norte em casa”, visar na direcção indicada pela “seta de direcção” e escolher um ponto de referência no terreno o mais longe possível e seguir nessa direcção até ele, sem olhar para a bússola. Repetir este procedimento até chegar ao destino – isto é, deslocar-se pela técnica das “visadas ou miras sucessivas”.
Metodologia para calcular um azimute sobre o mapa - técnica do “1 -2 – 3”:
1. Posicionar a bússola no mapa - Sem ser obrigatório orientar o mapa, colocamos o bordo longitudinal da bússola sobre o mapa de forma a unirmos o ponto onde nos encontramos com o ponto para onde nos queremos dirigir. Atenção: a ponta da “seta de direcção” deve estar a apontar na direcção para onde nos queremos dirigir.
2. Calcular o azimute – Uma vez a bússola posicionada, rodar a caixa móvel da bússola de modo a que as linhas que estão no seu interior fiquem paralelas, e no mesmo sentido, com os meridianos do mapa, que indicam o Norte.
Fica assim calculado, sobre o mapa, o ângulo formado pela “seta de direcção” e a direcção do Norte do mapa. O valor deste azimute fica indicado na “linha de leitura”.
3. Visar/fazer a mira - Segurar a bússola horizontalmente à frente e à altura do peito e rodar o corpo de modo a que a parte vermelha da agulha magnética fique coincidente com a seta que está desenhada na caixa móvel – isto é, “fazer entrar o Norte em casa”. Neste momento a bússola está a apontar na direcção do destino almejado. Olhar em frente, fixar um elemento de referência do terreno o mais longe possível, que fique na linha do azimute e caminhar/correr até ele, seguindo na direcção indicada pela seta de direcção. Repetir este procedimento, fazendo o deslocamento por “visadas sucessivas” até alcançar o objectivo.
Os azimutes são úteis :
· À saída do ponto de controlo para seguirmos na direcção correcta – deve ser tirada com tanta mais precisão quanto a pernada for curta.
· Na aproximação à baliza a seguir ao ponto de ataque. O azimute é tanto mais necessário quanto mais pobre for o terreno em detalhes e, portanto, o mapa for pobre em informações.
· Para evitar alongar a distância em zonas sem “grandes” relevos e cobertas de vegetação.
· Para atravessar com precisão uma zona de floresta densa. Nestas zonas, somente a bússola é fiável dado que as outras referências habituais, tal como o relevo, são muitas vezes difíceis de ver e/ou de interpretar.
· Para sair de uma referência de forma arredondada: descer de uma colina, sair de uma depressão, atravessar um limite curvo de vegetação.
De modo a não “embrulhar” os principiantes com explicações muito complicadas, eis algumas indicações expeditas que os podem ajudar a perceber de forma clara e eficaz a utilização da bússola:
ORIENTAR O MAPA E DETERMINAR A DIRECÇÃO DO PRÓXIMO POSTO DE CONTROLO:
1. Segura o mapa com a bússola colocada em cima, de modo a que o ponto onde te encontras fique perto do teu corpo (umbigo) e que o traço que une o posto seguinte fique diante de ti, na direcção do teu nariz.
2. Agora roda o corpo com o mapa, até que o Norte do mapa e a agulha vermelha da bússola indiquem a mesma direcção. Atenção: não rodes apenas o mapa – roda também os pés.
3. O mapa está agora na posição certa, isto é, está orientado. Tu encontras-te atrás do mapa, olhando na direcção do deslocamento. Se a baliza não estiver muito longe deverás vê-la ao levantares a cabeça.
ORIENTAÇÃO GLOBAL EM TRAJECTOS MAIS LONGOS – Bússola sobre o mapa:
1. Dobra o mapa para o poderes segurar bem. Segura o mapa de modo a que o ponto onde te encontras fique perto do teu corpo (umbigo) e que o traço que une o posto seguinte fique diante de ti.
2. Coloca o bordo da bússola ao lado e paralela ao traço que une o posto onde te encontras com o próximo posto.
3. Segura bem a bússola sobre o mapa e roda o corpo até que a parte vermelha da agulha da bússola indique a mesma direcção que o Norte da mapa. Atenção: não rodes apenas o mapa ou a parte de cima do corpo – roda o corpo inteiro. O bordo da bússola assim como a seta de direcção da bússola indicam agora a direcção do próximo posto.
Escolhe um “alvo” o mais à frente possível nessa direcção e corre sem olhares muitas vezes para a bússola. Durante a corrida a bússola permanece na mesma posição em cima do mapa. De vez em quando, verifica a direcção da corrida e corrige-a, apenas se for necessário, seguindo as indicações do passo 3. Continua a fazer estas operações até encontrares o posto de controlo. Não te esqueças de ler o mapa e o terreno para teres a certeza por onde vais.
Em resumo:
· A tua posição encontra-se perto do umbigo;
· O trajecto a seguir está na direcção do teu nariz;
· O ângulo da bússola indica a tua posição;
· O bordo da bússola está paralelo ao traço de junção dos 2 postos;
· Roda o corpo para fazeres corresponder o Norte do mapa e o Norte da bússola;
· Agora encontras-te na direcção do deslocamento: “GO” … “ALLEZ” … “CORRE” …
As bússolas comuns de competição – “bússolas de dedo” - não têm graus nem qualquer outra medida. O azimute não é expresso em graus, mas apenas numa direcção que o atleta estima através da orientação da bússola, indicando a direcção a seguir e permitindo-lhe ter o mapa sempre orientado e utilizar automaticamente a técnica do polegar. O atleta deve simultaneamente ler o mapa e o terreno com muita atenção.
Sem comentários:
Enviar um comentário