INTRODUÇÃO
De onde venho? Onde estou?
Para onde vou?
Por onde vou?
Saber orientar-se utilizando um
mapa, isto é, poder deslocar-se com à vontade e segurança de um ponto para
outro, em qualquer ambiente novo e desconhecido, utilizando a representação
gráfica desse meio – croqui, planta, mapa, carta topográfica, carta militar, … –
fazendo a relação espacial do desenho com a realidade, é um objectivo educativo
de base da escola de hoje.
Mais tarde ou mais cedo, toda a
gente será confrontada com um mapa da cidade, da estrada, com situações de
turismo pedestre, viagens ferroviárias, etc.
A leitura de um mapa e a orientação são, pois, actualmente,
competências necessárias em numerosas situações: na cidade, aquando de um
deslocamento académico ou profissional, em viagem ou na prática de um desporto
de ar livre, etc.
E, na realidade, implica várias competências difíceis de
adquirir teoricamente. Nada melhor do que iniciar com exercícios práticos que
utilizem croquis e mapas de áreas conhecidas e seguras.
A iniciação em mapas simples
vai permitir que os alunos abordem em progressão, cada passo, cada competência,
evoluindo do conhecido para o desconhecido:
·
Sala de aula e Ginásio – noção
de símbolo, croqui e mapa.
·
Perímetro escolar e espaços
circundantes, meios mais ou menos conhecidos – aplicação dos conhecimentos
adquiridos em meios seguros.
·
Floresta, meio desconhecido – aplicação dos conhecimentos
adquiridos, em meio desconhecido, – sempre que possível.
A aprendizagem da Orientação na escola em mapas simples, além de
permitir resolver esta competência educativa e utilitária básica, faz ainda a
ponte com a Orientação desportiva, modalidade conhecida no mundo do desporto
como “O
Desporto da Floresta”.
As
capacidades que a Orientação desportiva permite desenvolver – autonomia,
decisão, auto controlo, observação, reflexão, auto responsabilização, sem falar
no desenvolvimento das capacidades funcionais e coordenativas – resistência,
força, flexibilidade, velocidade, agilidade,... e o grande contributo para a
educação ambiental – justificam o seu ensino ao longo de toda a escolaridade.
CONTEXTO
A Orientação como desporto de ar livre, praticado na natureza,
embora faça parte dos programas nacionais de Educação Física, raramente entra
nos conteúdos de ensino da Educação Física e Desporto Escolar nas nossas
escolas.
Para a esmagadora maioria dos estabelecimentos de ensino – por
razões relacionadas com a falta de tempo/horários, distâncias a percorrer até
às áreas cartografadas, custo elevado dos recursos materiais necessários (transportes,
mapas específicos e outros materiais didácticos), formação específica dos
professores, … – esta actividade só é viável de realizar no interior das
escolas ou espaços circundantes, utilizando mapas simples (plantas, croquis,
…).
A Orientação é a actividade de ar livre mais simples e barata de
pôr em prática – uma pequena zona arborizada, um simples terreno desocupado, a
área de um complexo desportivo, de um estádio, de um jardim ou parque público
ou de uma escola, … podem facilmente permitir a aprendizagem das técnicas de
base da Orientação.
Podemos praticar Orientação em qualquer
espaço, desde que cartografado. Em função das condições de prática
oferecidas pela escola, o professor poderá desenvolver a actividade em espaços
como: ginásios, campos de jogos, perímetro escolar, estádios, parques/jardins
municipais, etc. – e, sempre que possível, em áreas de floresta.
As escalas utilizadas na iniciação deverão
ser da ordem de 1:2.000, 1:5.000, 1:7.500 – e só depois as escalas oficiais: 1:10.000
e 1:15.000.
Comecemos então por ensinar a Orientação nas aulas de Educação
Física e actividades internas do Desporto Escolar, dentro da escola e/ou áreas
circundantes.
Com facilidade o professor de Educação Física pode produzir
croquis de salas de aula, do ginásio/pavilhão, o Mapa Simples da escola, pintar meia centena de postos de controlo
fixos em elementos característicos do perímetro escolar (“Percurso Permanente
de Orientação”) – que lhe irão permitir traçar várias dezenas de percursos de
diferentes graus de dificuldade – e organizar o Dossier de Orientação …
As técnicas de orientação de base, o “Espírito da Orientação”,
os regulamentos e a organização de provas e convívios, o material utilizado, …
são em tudo idênticos aos utilizados na floresta, com algumas vantagens: há
mais segurança (física e psicológica); podemos tocar todos os alunos de uma
escola.
A iniciação à Orientação dentro da escola, poderá assim fazer
parte do Projecto Curricular de Educação Física, após algum investimento e
esforço iniciais.
Não nos esqueçamos também que, em
termos de desenvolvimento desportivo, a Orientação tem todas as vantagens em
ser implantada na escola, pois é ela o local privilegiado para o processo
ensino/aprendizagem inicial, garantidas as condições mínimas indispensáveis de
prática: formação específica dos docentes, mapas, material didáctico, leque de
actividades e jogos relacionados com a iniciação à Orientação desportiva…
O entusiasmo e a motivação pela
modalidade quer dos alunos quer dos professores são reais.
A dificuldade está em criar as
condições mínimas de prática e as metodologias indispensáveis dentro da escola.
Para tal, a FPO poderá ter
também uma palavra a dizer:
·
Quer na ligação entre as
escolas, o Desporto Escolar e os clubes de Orientação locais.
·
Quer no apoio à produção e
edição de mapas.
·
Quer na organização de cursos
de formação (inicial e reciclagem) para professores.
·
Quer na implementação de
percursos permanentes em escolas, parques e florestas circundantes.
·
Quer ainda no apoio à produção
e aquisição de material pedagógico e didáctico e organização de actividades.
… fazendo assim a ponte com a modalidade federada …
DEFINIÇÃO
É por volta dos 10 /11 anos que as crianças
estão suficientemente maduras para lidar com os conteúdos mais abstractos
relacionados com a leitura e interpretação do mapa de Orientação – no entanto,
há crianças de 7/8 anos intelectualmente ao nível das de 10 anos, capazes de
fazer percursos simples de iniciação.
De uma
maneira geral, podemos definir a Orientação como “corrida individual, contra
relógio, em terreno desconhecido e variado, geralmente de floresta ou montanha,
num percurso materializado no terreno por postos de controlo que o orientista
deve descobrir numa ordem imposta. Para o fazer, ele escolhe os seus próprios
itinerários, utilizando um mapa e, eventualmente, uma bússola”.
Ao praticante (“corredor todo o terreno”) é-lhe
imposto:
· Passar por todos os postos de controlo, por ordem obrigatória, no menor
tempo possível.
· Tomadas de decisão na escolha do itinerário – o orientista é “uma
máquina de fazer itinerários”.
· Respeitar os regulamentos relativos à modalidade, à segurança e ao meio
ambiente – o “Espírito da Orientação”.
Orientação é sobretudo a escolha de
itinerários, através da leitura e interpretação do mapa e da relação deste com
o terreno.
É uma actividade em que o praticante deve
decidir sozinho, ser responsável pelas suas tomadas de decisão, assumir e
responsabilizar-se pelos seus êxitos e pelos seus erros e fracassos – aqui a
culpa não é do árbitro …
Um percurso de Orientação, consiste, pois,
num deslocamento composto por três fases sucessivas:
1. Uma fase de referência com o mapa (localização no mapa, orientação do
mapa, relação mapa-terreno) – De onde venho? – Onde estou?)
2. Uma fase de escolha do itinerário (Para onde vou?), a partir de:
v “corrimões ou linhas de segurança” - por onde quero seguir: pelo lado
esquerdo do ginásio, junto ao canteiro, …
v pontos de apoio - que sucessivamente vão confirmando o meu itinerário: viragem
à esquerda, boca de incêndio, canto do pavilhão, …
v pontos de decisão - os locais onde mudo de linha de segurança
v saltos/atalhos - locais onde posso cortar, atalhar
v linhas de paragem - linhas, espaços, facilmente identificáveis que não
posso ultrapassar, ou as linhas, espaços ou objectos facilmente identificáveis
onde devo chegar quando faço um atalho
3. Uma fase de realização do itinerário, com reajustamentos em função da validade
das escolhas e da natureza real do terreno – Por onde vou?
Em meio escolar, podemos definir a Orientação como “uma
corrida individual ou em pequenos grupos, contra-relógio ou em tempo limitado, em terreno
variado e isento de qualquer perigo objectivo, em percursos materializados por
postos de controlo que o aluno deve descobrir por ordem obrigatória ou não, por
itinerários da sua escolha, servindo-se de um plano cartográfico ou de um mapa e,
eventualmente de uma bússola".
Com alunos muito jovens com pouca autonomia e
auto-confiança ou em função dos locais de prática e das condições de segurança,
o professor deverá propor inicialmente situações a pares/trios ou em pequenos
grupos. Progressivamente o professor irá solicitando o trabalho individual, à
medida que os alunos ganham auto-confiança e autonomia na realização das
tarefas.
Poderá também reduzir a pressão temporal,
recorrendo a uma metodologia que favoreça apenas a procura dos postos de
controlo.
A utilização da bússola deve ser retardada – o seu uso no início
do processo ensino/aprendizagem é frequentemente mais prejudicial do que
benéfica.
De facto, numa fase de iniciação é de todo prioritário e
essencial que o aluno aprenda a ler o mapa e o terreno e faça a relação entre
ambos – devemos ajudar o aluno a adquirir uma perfeita compreensão das
indicações fornecidas pelo croqui ou mapa, e isto em relação permanente com a
observação do terreno/envolvimento.
O aluno que faz com exactidão a relação mapa-terreno e
terreno-mapa, pode, na maioria dos casos, passar sem a bússola para se deslocar
de um ponto para outro quer dentro da escola quer dentro da floresta.
Servindo essencialmente a bússola para nos deslocarmos a direito
– para seguirmos a direcção ideal dada pela linha recta – a sua utilização precoce
iria levar o aluno a centrar nela a sua atenção (“ir com o nariz na seta
vermelha”), desprezando assim a observação das características do meio em que
se desloca e a sua relação com o mapa, sendo incapaz, na maioria dos casos, de
determinar a sua posição exacta quer no mapa quer no terreno.
Na iniciação à Orientação na escola e espaços circundantes, a
utilização da bússola, não sendo de todo indispensável, surge numa 2ª etapa – quando
o aluno já sabe orientar-se sozinho pelo terreno – como aquisição técnica com
“transfert” para a Orientação na floresta e como conteúdo utilitário.
Assim, a utilização da bússola na floresta, justifica-se nas
seguintes situações exemplo:
·
Em áreas sem relevo “falante”,
em áreas onde as árvores são todas iguais, em áreas abertas, nuas, sem dunas ou
relevo – isto é, quando o mapa e o terreno não apresentam referências
suficientemente características para orientar o mapa ou para determinar o
itinerário – orientamos então o mapa pela bússola.
·
Quando um obstáculo
inultrapassável nos obriga a uma mudança provisória
de direcção, sendo necessário contorná-lo – retomamos então a direcção inicial.
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