PERCURSOS
DE ORIENTAÇÃO PARA CRIANÇAS
Recomendações
“Percursos Balizados” – “Percursos
H/D10 e H/D12”
“Percursos para Grupos de Formação”
“A
criança não é um orientista como os outros”
“Um
percurso para crianças nunca deve ser considerado muito fácil”
“Demasiadas vezes
constatamos que os percursos elaborados aquando das competições regionais e/ou
nacionais não correspondem às capacidades físicas e técnicas dos nossos
escalões
mais jovens. Muitos
dos percursos são concebidos a despeito do bom senso, e até
mesmo contra os regulamentos
em vigor. O grau máximo de dificuldade
recomendado é muitas vezes
ultrapassado”
RECOMENDAÇÕES GERAIS
·
A
Orientação para as crianças deve ser lúdica e sobretudo acessível;
·
Deve
suscitar-lhes vontade de voltar à floresta e, sobretudo, não as desencorajar;
·
No
que respeita às crianças, um percurso nunca é muito fácil;
·
Mesmo
que certos jovens apresentem uma experiência e autonomia acima da média,
devemos determinar o grau de dificuldade dos percursos para crianças pela média
inferior e não pela média superior, contrariamente ao seguido para os escalões
adultos.
·
A criança não é um orientista como
os outros:
§
Devido
ao seu tamanho, o ângulo de visão no plano vertical é limitado;
§
As
suas capacidades físicas e técnicas são relativamente fracas;
§
Nestas
idades há uma grande variação nas aptidões;
§
A
sua autonomia face a ambientes desconhecidos é limitada, necessitando muitas
vezes de ser reconfortada;
§
A
sua concentração diminui rapidamente – depressa vem ao de cima a sua vontade de
brincar (jogo), de passar a outra actividade ou distrair-se com outra coisa.
·
Critérios de êxito a ter em conta em
acções de formação e estágios para crianças:
§
Adquirir
autonomia em ambientes desconhecidos;
§
Descodificar
a simbologia de base do mapa (não o relevo ou outros objectos
particulares) e poder relacioná-la com o terreno (e vice-versa);
§
Situar-se
no terreno pelo sistema da “triangulação” (“orientação pelo terreno”) e,
portanto, sem bússola
§
Orientação
“espacial”: com o mapa orientado, devem poder optar por uma direcção a seguir;
§
Seguir
por um caminho simples: com o mapa orientado – e a técnica do polegar;
§
Não
utilizar a sinalética dos postos de controlo da IOF;
§
Adquirir
uma velocidade de execução adaptada às suas aptidões, que lhe permita integrar
todos estes parâmetros.
ELABORAÇÃO DOS PERCURSOS DE
UM EVENTO
·
Começar
pelos percursos das crianças, pois são prioritários;
·
Verificar
se há correspondência entre o terreno e o mapa;
·
A
Partida e a Chegada devem estar sobre “linhas de segurança”;
·
A
área geral da prova deve oferecer um máximo de linhas de segurança para se
elaborarem os percursos;
·
Nos
casos onde estes princípios não sejam viáveis, será necessário deslocalizar os
percursos das crianças (H/D10, H/D12) para zonas que respeitem estes critérios;
·
Se
o traçador de serviço não se sentir à vontade na elaboração deste tipo de percursos,
deve passar o testemunho a um “iniciado” – que poderá estar em melhores
condições para “se colocar na pele das crianças”;
Em
qualquer dos casos, este trabalho deve ser controlado pelo “supervisor” da
Federação.
CARTOGRAFIA E CORRESPONDÊNCIA
MAPA–TERRENO
·
Optar
sempre que possível por mapas com escala grande (1:5.000 máximo). Permitem
colocar mais postos e reduzir a distância dos segmentos entre eles. Permitirão
também melhor fazer-se as correcções de correspondência mapa-terreno;
·
As
zonas de Partida e Chegada devem ser marcadas sem ambiguidades;
·
As
correcções devem figurar directamente no mapa dos concorrentes e não unicamente
no “mapa mãe” afixado;
·
As
zonas onde subsistam dúvidas devem ser balizadas;
·
A
especificidade da simbologia no que diz respeito às zonas “com vegetação” e
“zonas edificadas” deve ser tomada em atenção, a maneira de abordar as suas
dificuldades específicas é diferente.
NÚMERO E FREQUÊNCIA DAS
BALIZAS
·
Não
ceder à tentação de diminuir o número de balizas nos percursos das crianças,
como é regra nos percursos dos adultos. A actividade deve permanecer lúdica (tipo
“caça ao tesouro”) e ter em conta o nível de concentração das crianças;
·
Assim,
a norma de um posto de controlo todos os 5 minutos para os adultos, deve ser
substituída aqui por um posto todos os 3 ou 4 minutos. O que corresponde, em
média, a um posto de controlo de 250 em 250 metros (sem ultrapassar o limite
dos 400 metros).
POSICIONAMENTO DAS BALIZAS
·
Não
é necessário que os percursos das crianças tenham “as suas próprias balizas”. Contudo,
se estes percursos forem bem concebidos, as suas balizas não serão, certamente,
utilizadas muitas vezes nos percursos dos outros escalões;
·
Para
balizar os percursos H/D 10, as balizas são colocadas sobre as linhas de segurança;
·
Para
os percursos H/D 12, a colocação das balizas não deverá exceder 25 metros para fora
das linhas de segurança, devendo situar-se em locais onde haja um ponto de
ataque sobre a linha de segurança, a fim de facilitar o seu acesso;
·
Colocar
balizas nas mudanças de direcção que não são evidentes. Estas balizas obrigarão
a criança a parar e a reorientar-se;
·
Sugere-se
a picotagem manual em detrimento da electrónica.
ITINERÁRIOS
Para
os percursos H/D 10 e H/D 12, os deslocamentos devem poder fazer-se por linhas de segurança;
·
O
nível técnico dos percursos será determinado pelas diferentes opções de
itinerários e as possibilidades de “atalhar em corta mato”;
·
Se
determinado segmento do percurso não puder ser feito sobre uma linha de
segurança (zona inadequada, muito técnica, inevitável), devemos balizá-lo em
contínuo no terreno, com a respectiva indicação a tracejado no mapa;
Para
os Percursos Balizados, os princípios acima referidos são aplicados na totalidade;
·
O
percurso é marcado no mapa com uma linha vermelha descontínua (tracejado) e no
terreno com fitas. As duas marcações devem estar concordantes;
·
A
linha vermelha a tracejado marcada no mapa não deve ocultar os detalhes do
mapa;
·
As
balizas devem ser facilmente identificáveis, idênticas e colocadas visivelmente
na totalidade do percurso. Não devem ficar muito espaçadas – de um balizamento,
a criança (não esquecer que a criança é mais pequena que o adulto …) deve
poder ver, pelo menos, o balizamento seguinte.
Nota: o traçador deve calcular a distância do percurso em função da
“linha vermelha” a tracejado e não deve ser levado a basear-se no “itinerário ideal”.
DEFINIÇÃO DOS POSTOS DE
CONTROLO
·
Utilizar
vocabulário adaptado às crianças. É muito pouco provável que palavras como
depressão, escarpa, aceiro, moita, esporão, façam parte do seu vocabulário.
ACESSO À PARTIDA E RETORNO AO
CENTRO DOS PERCURSOS
·
Se
a distância “Secretariado-Partida” e/ou “Chegada-Secretariado” ultrapassar os
500 metros, deve ser previsto um estafeta. Este estafeta será também útil e certamente
apreciado pelos nossos orientistas “mais velhos”;
·
Escolher
eventualmente uma outra zona de prova, mais próxima do Secretariado.
SEGURANÇA E “BEM ESTAR”
DENTRO DOS PERCURSOS
·
Os
percursos destinados às crianças devem em absoluto evitar zonas perigosas e as
zonas “de desconforto”, tais como:
o Proximidade de estradas ou vias de
caminho de ferro (não desactivadas);
o Zonas com mau acesso (árvores
caídas, pedreiras, vegetação sazonal);
o As “pistas de corrida”, zonas
pantanosas, zonas húmidas, ruínas, etc.
o Os ribeiros, ravinas, silvados
(ultrapassados facilmente pelos adultos, o que não é o caso para a criança).
·
O
termo “desconforto” pode fazer sorrir … mas colocar as crianças em situações em
que elas “chafurdam” (por vezes acompanhadas por pais não orientistas) em
espessos silvados ou zonas pantanosas, não as motivará seguramente a querer voltar
à floresta …
EM SÍNTESE
CONSELHOS ESPECÍFICOS PARA “PERCURSOS
BALIZADOS” – (6
a 8/9 anos)
·
A
distância do percurso – seguindo as fitas – deve ser de 2 a 3 Km no máximo;
·
O
percurso deve ser inteiramente balizado, com balizas (fitas) facilmente
identificáveis e idênticas ao longo de todo o percurso;
·
Deve
integrar a possibilidade de atalhos (“corta mato”) em relação ao itinerário “ideal”;
·
O
itinerário balizado está materializado no mapa por uma linha vermelha
descontínua e deve estar em concordância com o balizamento colocado no terreno;
·
O
itinerário balizado deve seguir linhas de segurança;
·
Colocar
as fitas no sentido inverso ao do percurso – esta colocação em “contra
corrente” permite verificar se, depois de cada balizamento, a fita seguinte é
visível.
CONSELHOS ESPECÍFICOS PARA “PERCURSOS H/D 10 e H/D
12”
·
Começar
pelos percursos das crianças;
·
Verificar
se há correspondência entre o terreno e o mapa;
·
Respeitar
a distância máxima (real) prevista para os percursos;
·
Máximo
de 500 metros até à Partida. Caso contrário deverá haver serviço de estafeta;
·
Definição
clara dos postos de controlo;
·
Um
mínimo de 10 postos de controlo – 1 posto todos os 3 minutos ou 250 metros;
·
Os
itinerários são linhas de segurança fáceis e evidentes;
·
Máximo
de 400 metros para o comprimento dos segmentos do percurso;
·
Se
tiverem inevitavelmente de passar por zonas pouco legíveis: balizar o terreno
em contínuo;
·
Evitar
zonas perigosas e não fazer “chafurdar” por prazer;
·
Imprimir
os mapas em escalas grandes (1:5000 a 1:2500).
Noção de “Linhas de Segurança”
Podemos hierarquizar
as Linhas de Segurança – também chamadas de “corrimão” ou “fio condutor” – em
três tipos:
·
L 1 – São as linhas mais familiares, as
mais visíveis, as mais fáceis de seguir, referenciadas facilmente no mapa e no
terreno.
Constituem
as linhas pelas quais os orientistas do nível 1 (Principiantes) se deslocam.
Exº:
caminhos, áleas, grandes aceiros, linhas de água (riachos, rios), vedações
intransponíveis, muros, linhas de alta tensão, …
·
L 2 – Elementos característicos do terreno
menos evidentes. São marcadas no mapa por traços a ponteado ou tracejado.
Constituem
as linhas pelas quais os orientistas do nível 2 (Desembaraçados) se deslocam,
saltando por vezes de uma para outra linha ou deixando momentaneamente uma
linha para tentar ganhar tempo.
Estas
linhas simbolizam: os pequenos aceiros, escarpas, fossos, limites de grandes
clareiras, regatos, vedações transponíveis, sebes, alinhamentos de árvores,
contornos de grandes depressões, contornos de grandes charcos, limites de
floresta, rupturas nítidas no relevo, …
·
L 3 – Exigem maior análise e observação
quer no mapa quer no terreno.
Exº:
limites de mudança de vegetação, índice de penetrabilidade de vegetação,
contorno de grande depressão, …
CARACTERÍSTICAS DOS “PERCURSOS
DOS GRUPOS EM FORMAÇÃO”
(Ed. Física/Desporto Escolar; Clubes/Escolas de
Orientação)
Nível 1 – Principiantes
·
Percursos
simples com cerca de 1.000 metros, comportando 5 balizas ou:
·
Dois
ou três percursos com cerca de 500 metros, comportando 3 balizas percurso em “borboleta”
ou “trevo”;
·
O
andamento médio esperado situa-se na proximidade de 15 mn/Km, ou seja 4 Km/h;
·
A
distância entre dois postos de controlo não deve passar os 250 a 300 metros;
·
A
colocação das balizas deve fazer-se sobre as intercepções das linhas ou sobre
os pontos característicos muito próximos duma intercepção (até 20 ou 30 metros);
·
Sobre
os percursos parciais (entre os postos de controlo), os concorrentes deverão
encontrar dois ou três pontos de decisão (duas a três intercepções).
Nível 2 – Desembaraçados
·
Percursos
simples com cerca de 1.500 a 2.000 metros, comportando 6 a 10 balizas;
·
O
andamento médio esperado situa-se entre os 12 e 15 mn/Km e o tempo de corrida
por volta dos 30 minutos;
·
A
distância entre dois postos de controlo não deverá exceder os 400 metros;
·
Os
postos podem estar colocados nas intercepções das linhas de nível L 1 e L 2 ou também sobre elementos
característicos próximos de um ponto de ataque seguro – último ponto
característico suposto seguro a escolher pelo orientista, mesmo antes do posto
de controlo. A distância entre o ponto de ataque e o posto não deve exceder os
50 metros;
·
Sobre
os percursos parciais, pode haver entre dois a cinco pontos de decisão.
Nível 3 –
Orientistas Confirmados
·
O
praticante começa a descobrir a “corrida todo o terreno” e reduz o número e a
duração das paragens, pois já é capaz de ler o mapa em corrida;
·
Neste
nível o aluno deve ser capaz de efectuar o percurso em corrida, seguindo linhas
dos níveis L 1, L 2 e L 3. O aluno começa a “navegar”, isto é, a orientar-se
pelas curvas de nível (relevo). É capaz de correr em todo o terreno, lendo o
mapa e tomar decisões em corrida. Procura a todo o momento ganhar tempo. O seu
itinerário aproxima-se da linha recta;
·
Percursos
todo o terreno de 3.000 a 5.000 metros, comportando 8 a 12 balizas;
·
O
andamento médio esperado oscila entre os 10 e 12 mn/Km e o tempo de prova em
corrida situa-se nos 45 minutos;
·
A
distância entre dois postos de controlo não deverá ultrapassar os 500 metros;
·
As
balizas podem ser colocadas sobre linhas L 2 e L 3 ou em elementos característicos do terreno situados até 100 metros
de um ponto de ataque;
·
Sobre
os percursos parciais, pode haver entre três a sete pontos de decisão, em
função da dificuldade técnica do terreno.
Adaptado de :
· “Recommandations
pour l´élaboration de parcours destinés aux enfants” – Fédération
Régionale des Sports d´Orientation, Bruxelas, Bélgica.
·
“Course
d´orientation au college et au lycée” - FOGAROLO, Denis e STRYJAK,
Gilles, editions Révue EPS, Paris, 2001.
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